segunda-feira, janeiro 28, 2008

Os Pides também fumavam


Um dos recursos humorísticos menos cotados em Portugal, mas extremamente eficaz, é o uso da palavra fascismo aplicada a quase tudo que implique proibições. Como estudante de História, li coisas sobre o fascismo, estudei regimes totalitários, e por isso, tenho respeito pelo adjectivo fascista, que não é palavra que se use por dá cá aquela palha. Mas a sua utilização é quase diária e ininterrupta, principalmente a propósito de algumas das medidas e actuações deste Governo. É interessante, porque se vivêssemos memso num estado fascista, eu não podia ter este blog e logo, não podia zurzir o tipo de pessoas que acham que eu vivo numa situação que não me permite insultá-los.

Ora, o mais recente gatilho do uso absurdo da palavra "fascista" foi a lei do tabaco. Permitam que vos ofereça um ponto de vista do conjunto de pessoas que muito raramente é ouvida pelos media acerca desta lei: os não fumadores. Sim, nós também temos algo a dizer sobre estas questões todas. Nos jornais e na televisão, escutam-se os lamentos, as queixas e as vociferações daqueles que se vêem privados do gesto de puxar de um cigarro onde lhes apetece. É um desastre, realmente. Um atentado à liberdade individual, uma machadada no sistema democrático, o fim da pluralidade.

Claro que o que mais me espanta é o facto de a discussão não ter acabado quando surge o argumento "o fumo passivo afecta a saúde das pessoas." Mas isso sou eu, que tenho lapsos de sensatez, principalmente quando envolvem danos em outrém.

No entanto, há uma fuga a este argumento: se eles não querem sofrer com o fumo do tabaco, não se metam nos sítios onde ele está. Claro que quando se é amigo de um fumador, isso obriga-nos a escolher: o cigarro ou o amigo? Contrariando todas as regras da lógica e da saúde, acabamos por escolher amigo. O fumador muito raramente o faz, e digo-o por experiência própria. Se tiver de escolher entre o cigarro e quem está com ele, o pauzinho branco e caramelo ganha, com maioria absoluta. Portanto, chamem-me extremista e o que quiserem por concordar com esta lei do tabaco, que obriga a que pessoas que fumem não importunem pessoas que não fumem, pois elas próprias não parecem ter o discernimento suficiente de o fazer por livre vontade. Penso que Hitler e Mussolini eram ávidos anti-tabagistas, mas vou confirmar isso num livro qualquer.

A lei não proíbe o tabaco. Apenas regulamenta os espaços onde este pode ser fumado. Não me parece um exagero que se peça aos fumadores que não fumem dentro de espaços fechados, prejudicando os outros. O Estado está a mexer com os vossos direitos? Pois temos pena: está a defender os meus, cidadão que não fuma e que embora não seja obrigado a ter de gramar com o fumo do tabaco, o faz pois padece de uma doença grave e crónica: tem sentimentos humanos. Claro que não é desinteressada: o Estado não se lembrou de repente de que o tabaco faz mal à saúde. É, de facto, uma mina de ouro para os cafés que têm espaço suficiente e autorização para delimitar um espaço para fumadores, e para além disso, o Estado poupará milhões em comparticipações de tratamentos daqueles que sofrem maleitas físicas relacionadas com os efeitos do tabaco. Mas ainda assim, penso que é por uma boa causa.

Se os fumadores desejam estar em espaços públicos, à vontade, a soprar alcatrão e nicotina para o ar, quero vir aqui defender uma classe que tem sido ostracizada nos últimos anos: os artesãos de amianto. Essxas bravas pessoas, artistas que lidam com um dos materiais quotidianos mais radioactivos que existem, devem também ter direito a sentarem-se numa mesa de café e desenvolverem o seu métier junto do cidadão comum, como eu e tu. É algo que ele gosta de fazer, e proibir isso seria um enorme atentado à sua liberdade pessoal.

E o leitor diz: "Bolas, lás estás tu a exagerar." E eu digo: tem razão, sim senhor. Afinal, o tabaco até mata mais gente que o envenenamento radioactivo.

2 comentários:

Nuno disse...

Há um ano atrás eu estava satisfeito por, finalmente, poder ir a um bar sem vir para casa com a roupa a cheirar a tabaco. Passado um ano, chego à conclusão que esta lei simplesmente não funciona. Hoje, está praticamente tudo igual ao que era no dia 31 de Dezembro de 2007. Fuma-se em praticamente todos os bares, sem que haja condições para o fazer. Continua-se a ver uma núvem de fumo dentro de bares e cafés que, segundo a lei, não se devia ver.

Porquê? Por dois motivos fundamentais: Não há fiscalização; Os sistemas de extracção não são eficientes ou, pior ainda, estão desligados!!! Chega a ser ridículo. Neste momento, bares para não-fumadores começa a ser coisa rara.

Cumprimentos,
Nuno.

Anónimo disse...

Sou um ex-fumador que aprendeu da pior maneira os malefícios do tabaco e concordo plenamente com tudo o que aqui foi dito. Na realidade um fumador não tem escolha. Entre o amigo e o cigarro, ele acaba sempre por escolher o cigarro.
Eu levantava-me de noite para ir comprar tabaco, mas conseguia suportar a fome se não tivesse pão em casa.
Quanto ao comentário do Nuno, também acho que só fazer leis não chega, se depois não houver quem as faça cumprir. Continua a fumar-se em espaços proibidos da mesma forma que se continua a estacionar em cima do passeio. Não há fiscalização suficiente e mesmo a que existe padece dos mesmos males do cidadão comum. Acerca do estacionamento, não é raro ouvirmos da boca da autoridade frases como - se não há lugares, as pessoas são "obrigadas" a estacionar em cima do passeio.
O ser humano (e penso que o português, em particular) gosta de infringir regras. Talvez uma lei que obrigue as pessoas a fumar tivesse melhores resultados. Ai é obrigatório fumar? pois agora é que eu não fumo eheheh.

Vim aqui parar através de um comentário no blog da Susaninha.