sexta-feira, novembro 04, 2005
Jogo de palavras
Se há palavra que deve ser bem pesada e utilizada num filme de língua inglesa, de modo a ter o sue efeito máximo, essa palavra é o "Fuck". Em diferente sistuações, pode acentuar vários sentimentos, provocar o riso, lançar o desespero ou simplesmente enfatizar uma expressão de um personagem. Porque para além da história ser interessante ou não, as palavras que uma argumentista põe no papel guiam o espectador na trama. Autores como David Mamet ou Woody Allen, em campos diferentes, são exímios em esgrimir vocábulos e a colocá-los em folhas como se preenchessem pautas de música, e há géneros fílmicos que têm com as palavras uma forte relação (o film-noir, por exemplo).
O maior mestre do uso do "fuck" é, indubitavelmente, o actor Joe Pesci. Colaborador regular dos filems de Scorsese, ele é, juntamente com Al Pacino e Marlon Brando, o protótipo do mafioso para o espectador comum. Mas enquanto Pacio e Brando dão uma dimensão operática às suas personagens (algo potenciado também pela realizçaão de Coppola), Pesci é o homem de rua que sobe a pulso na vida e resolve as coisas com muito menos finesse e com a maior requinte de malvadez que se lembrar. Lembremos o Nicky Santoro, de "Casino", e cena com a cabeça no torno de madeira. Mas provavelmente, o melhro exemplo do uso de "fucks" por parte de Pesci esteja no filme "JFK", de OLiver Stone, com a personagem de David Ferry a abusar desta palavra até à exaustão, mas sem nunca parecer descabido. Cada fuck pronunciado por este actor arrepia-nos, ou diverte-nos, e por vezes nem nos lembramos que é um fuck ou um palavrão. Essa é a arte de Joe Pesci.
Fica também na memória, no 4º episódio da série "The wire" uma cena, de quase cinco minutos, em que dois detectives, interpretados por Frankie Faison e Dominic West desvendam uma cena de crime, usando como único diálogo vários "fucks" de espanto espalhados em momentos chave de descobrimento de um novo pormenor, ou um esporádico motherfucker, conduzindo-nos assim pela trama sem o uso de qualquer outro estratagema de argumento. Brilhante!
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