segunda-feira, novembro 14, 2005

Os limites do humor



Há dois tipos de pessoas para quem os que gostam de mandar piadas deveriam ser encerrados numa caixa e deixados no fundo do mar: os fundamentalistas religiosos e os comunistas. Pensando bem, estes últimos até se misturam bem com os primeiros, portanto vamos fazer deles um único grupo. Os únicos fundamentalistas que eu tenho hipótese de conhecer fundamentalmente são os católicos, embora me pareça que os das restantes religiões tenham também um nível de ferocidade e de tacanhice bastante apreciável. Há uma outra coisa bastante comum entre eles: todos pensam que são mais liberais e abertos que os restantes, quando a única coisa que difere não são os seus padrões, mas sim o alcance que as suas punições podem alcançar: se um padre pode apenas excomungar ou obrigar um humorista a rezar um terço (coisas que, por si, já são bem puxadas), um imã pode mandar apedrejar alguém. Parecendo que não, ainda é um diferençazinha.

A Igreja Católica tem um historial já longo de censura e repressão a artistas e quando toca a àqueles que se atrevem a fazer pouco da instituição, é o Carmoe a Trindade. Porque podem até nem abordar as divindadesem si, mas basta chatear os homens da hierarquia e já se ganha o direito a apanhar com as chamuças da morte, de regressar ao tempo das belas fogueiras no Terreiro do Paço. Que saudosismo!, exclamaria um padre meu conhecido.

Mas a coisa que mais me espanta é que, nesta história, acabam por ser bem mais divertidos os sacerdotes e demais pessoas ligadas à Igreja Católica do que aqueles que tentam brincar com ela. Acaso alguém terá permanecido sério quando o cardeal patriarca de Lisboa, D, José Policarpo, afirmou que a a Igreja não era masculina e não tinha nada congra as mulheres? Ou quando um padre do Norte, há uns meses, bradou que era mais grave o aborto que o infanticídio, em pleno funeral de uma criança de 3 anos, assassinada dias antes? Digno de qualquer cómico de stand-up!

Por isso me irrita quando me lançam olhares reprovadores quando faço qualquer graçola ligada à religião. Fazem-me sentir como se eu estivesse a calcar território proibido. Querem-me dizer que não se pdoe brincar com a religião? Claro que se pode. Qual é o medo, não fica bem? Faz zangar Deus? E se houver um Deus lá em cima, eu, como agnóstico, prefiro a visão original da Bíblia do gajo que também comete os seus erros no Antigo Testamento (Sodoma e Gomorra, pá? Podias ter sido bem mais subtil e menos abrutalhado) e se torna num tipo fixe com aquela história de paz na Terra e amor para todos à criada pela Igreja, a do velho de barbas que brande raios lá em cima e os aponta aos pecadores e aos malvados, sendo dominado por uma misoginia doentia. Além disso, ninguém em convence que Deus, a existir, é um gajo sem sentido de humor. Acredito aliás que ele é o mais dado a rambóias que há: seria um gajo cinzentão e sisudo capaa de criar o ornitorrinco e o equidno, inspirar a Odete Santos a entrar numa revista à portuguesa e convencer o padre Broga a lançar discos?

1 comentário:

Rita disse...

O problema não é brincar, nem 'dizer piadas'. O problema é como dizer piadas. Há pessoas que sabem brincar sem serem ofensivas, sem calcarem o que os outros respeitam e acreditam. Tu sabes fazer isso. E bem. Mas nem sempre o fazes. Porquê?