terça-feira, novembro 10, 2009

"Fight club"


Um tipo com a mania das importâncias como eu tem obrigatoriamente o dia em que calhou nascer. 9 de Novembro tem de tudo: eleições históricas, atribuições de prémios Nobel, golpes de estado decisivos, assinaturas de armistícios e, o mais conhecido, quedas de muros que durante décadas separaram a capital de um determinado país do centro da Europa.
Há uma década, uma outra efemérida juntou-se a esta lista: estreou em Portugal um filme que concentrava em si a angst do fim de século, um certo mal-estar entre pessoas com a idade a rodear os trinta anos, e que se viria a tirnar o filme definitivo de culto para o século seguinte. Lembro-me de ter ido mais um amigo meu vê-lo, cm celebração do meu aniversário. Atraiu-me porque gostava do realizador e o trailer pareceu-me enérgico e divertido. Quando saí daquela sala, estava transfigurado. O filme batera-me com determinada força e soube aí, de certeza, que iria estar a falar de "Fight club" durante muito tempo.
Revi-o na semana passada e fiquei espantado pelo facto de o seu poder anárquico não ter desaparecido. De facto, continua a manter a sua subversão dez anos depois, mostrando que o mundo não mudou tanto assim e que certas coisas na natureza humana se mantiveram inalteradas: o materialismo, um certo desenraízamento e uma falta de tomates para mudar as coisas. Outra das suas forças continua também, que é a incapacidade que temos de categorizá-lo. É um thriller? É um filme de luta? É uma comédia? O que defende afinal? Valores de esquerda? Valores de direita? E será que defende alguma coisa? De qualquer forma, consegue ser um paradoxo interessante: um anúnio de publicidade muitíssimo bem feito, estilizado, acerca do materialismo.
As razões que o levaram a transformar-se num filme de culto definitivo também esperam teorização. "Fight club" foi inicialmente um fracasso comercial; quando os executivos da FOX, o estúdio que o produziu, viram o produto final, começaram a perguntar-se como teria sido possível terem dado luz verde a uma obra tão transgressora. Raramente se terãolido críticas tão revoltadas a um filme, principalmente do ponto de vista moral. Nem Michael Bay, que faz pornografia artística, terá alguma vez tido tal reacção. O filme estreou na pior altura possível, poucas semanas depois do tiroteio no liceu de Columbine, e falava a uma geração de alienados, que viam outros como eles a embarcar alegremenete em actos que podem ser considerados terroristas. No entanto, teve uma fortíssima recepção em DVD, vendendo seis milhões de cópias, e entou na cultura popular. A frase "The first rule fo Fight Club is you do not talk about Fight Club" é facilmente citável, entre outras tiradas do filme ("I'm Jack raging bile duct"; "You're not your fucking kakhis!"); o estilo de moda de Tyler Durden, ícone stylish encarnado por Brad Pitt, com o seu casaco de cabedal vermelho e as suas camisas havaianas, inspirou estilistas e o cidadão comum; e a proliferação de mitos urbanos acerca de clubes de combate reais garantiu a sua imortalidade. Para além disso, segundo Chuck Palahniuk, o autor do livro que dá origem ao filme, é o filme de namoro perfeito. Fincher descobriu que, estranhamente, são as mulheres jovens que mais atingem o sentido de humor do filme, talvez por este girar em torno da postura macho da criatura masculina.
Um enorme filme, e isso é o que interessa, para lá de todas as teorias e relevâncias socio-políticas. Fincher no topo das suas faculdade, Pitt e Norton com uma química imparável e um final que dispensa qualquer epíteto de tão emblemático: em 11/9/2001, eu recordei-me disto. Não pode ter sido por acaso.


P.S: Tim Burton pode ser o marido e rei do estranho, mas ninguém utilizou tão bem a bizarria inerente a Bonham-Carter como David Fincher o fez neste filme

3 comentários:

Post-It disse...

Tens o dvd para me emprestares?
Fiquei algo curiosa após a tua recensão.

Satty disse...

Isto é uma indirecta que eu sei....

João Saro disse...

Deus* construiu um mundo a pensar em equilíbrios, daí que com tantos factos históricos importantes no 9 de Novembro, alguma desgraça ele teve de fazer nesse dia.

Só me admira ter passado 7 anos para restabelecer o equilíbrio com o Muro de Berlim. :p

Ainda estou é por descobrir o que se passou de tão ruim num 22 de Setembro (possivelmente, terá confundido os "2s" com os "1s").

Parabéns, outra vez, pá! Abraço.

* Para não ferir a tua susceptibilidade e para teres a certeza que estou no gozo, achei bem começar por incluir esta referência divina. ;)

Até porque o acontecimento mais importante num 9 de Novembro foi sem dúvida o SLB vencer o Naval.