terça-feira, novembro 23, 2010

Gaivotas em terra...


...tempestade no mar. E é onde ela anda bem, que assim faz sol na Madeira. O problema é que acho estar a ficar com o síndrome dos suecos ao contrário. Sinto a falta do Inverno.

sexta-feira, novembro 12, 2010

Madeira 4

Todos os dias me fazem questão de lembrar de que tenho duas existências separadas. Uma é aqui neste bocado de matéria sólida cuja proximidade geográfica mais pede a adesão à União Africana do que propriamente à sua congénere europeia; outra continua, imperturbável centenas de quilómetros além-mar. Recebo e-mails que me tratam como se Bruno Fernandes estivesse por Coimbra, levando a sua vida normal. Convidam-me para aparecer em Conselhos Regionais e oferecem-me bilhetes para ante-estreias no Fórum Coimbra. Uma beleza. Enquanto tento calcar com entulho as saudades que vou tendo de coisas e pessoas, alguém me faz questão de lembrar de que existo noutra realidade. O problema é que começo a pensar se realmente o meu outro eu se está a divertir mais do que eu.

Um evento inédito surgiu esta semana: dei 100% a uma aluna. Gostava de ter o crédito, mas o raio da miúda é esperta e trabalha. Parecendo que não, juntar ambas costuma ajudar a ser bem sucedido, como me lembrei várias vezes nas minhas reflexões acerca de "Porque é que não terminei a tese?" Segundo a directora da escola, a minha alcunha entre alguns alunos é "Bin Laden". Pegarem por causa da barba? Please... Miudagem, mais criatividade. Um dos meus alunos disse que era o professor mau, com respeito. vêem? É assim que se arranjam boas alcunhas: com a perspicácia aguda que capta as qualidades mais salientes do indivíduo.

Se outra coisa não levasse desta experiência, fica isto: castanhas assadas são tão, tão boas!

E é isto.

Ponto intermédio




Dou um olhada 15, 20 filmes possíveis de vir a aparecer nas nomeações dos Óscares deste ano e chego à conclusão de que este poderá ser o primeiro ano a sério desta história de se lançar uma dezena de concorrentes à arena, em vez de cinco. Queria chamar-vos à atenção para este pormenor, pois sei que há de entre os leitores habituais quem, como eu, aproveita esta antecâmara oscarizante para escolher filmes para ver no cinema em casa. Em primeiro, de entre os que já estrearam em Portugal, vejamos quem se destaca nesta corrida.
"Inception" preenche o requisito "dinheiro". Neste dez, quase de certeza haverá um filme que simbolize o voto popular, e este possui a junção certa de qualidade e lucro. Para além disso, mitos urbanos dizem que esta história dos dez nomeados só apareceu, porque a vergonha de não ter posto "The dark knight" como concorrente aos Óscares era demasiado grande para ignorar; "Toy story 3" é, atrás de "The social network", o filme com melhores reviews do ano. Para além disso, é Pixar e já sabemos o que isso significa nos Óscares. E o meu comentário a "The social network" está em baixo, e mais adendas a tamanha perfeição reunida num só filme são redundantes e uma ofensa séria à sua qualidade. E não esqueçamos "Suutter island", com a combinação sempre prometedora Scorsese + Di Caprio.
Quando olhamos para o que ainda está para estrear nos próximos 4 meses, a nossa cabeça corre o sério risco de explodir. "127 hours", o novo de Danny Boyle, sobre Aron Rolston, o inconsciente que ficou com o braço preso debaixo de um calhau no Utah, parece ser o tipo de experiência visceral que faz esquecer o tom algo parolo de "Slumdog millionaire"; "The black swan" traz Aronofsky de novo a estas brincadeiras, mas desta vez a sério, num filme acerca do mudno do ballet, que envolve psico-drama, avarias da cabeça e uma cena lésbica entre Natalie Portman e Mila Kunis; "The way back" é o regresso do maior realizador australiano da actualidade, Peter Weir, num épico de fuga de gulag que mete ao barulho Jim Sturgess, Colin Farrell e o sempre grande Ed Harris na tundra siberiana; "Get low" parece ser o tipo de bizarria americana que se fazia muito na década de 80, muito kitsch e seca ao mesmo tempo. E com um elenco com Robert Duvall a fazer de tipo de convida gente para o seu próprio funeral, anunciando-o atempadamente, Sissy Spacek e Bill Murray a fazer de coveiro, o que não há para gostar?; "Hereafter" é "Ghost" em versão Clint Eastwood com Matt Damon. Como não ficar curioso?; "Fair game" é um filme onde Naomi Watts faz da espira americana Valerie Plame e Sean Penn o seu marido. Poucos filmes conseguem soletrar "Oscar" melhor do que este; e há ainda "True grit", o novo dos Coen com Jeff Bridges, Matt Damon e Josh Brolin, e "The fighter", que reúne três espalha-brasas, e duas actirzes já nomeadas: David O. Russel realiza e Mark Wahlberg, Christian Bale, Amy Adam e Melissa Leoa interpretam.
E este pode ser o ano em que, simultaneamentre, David Fincher e Natalie Portman podem ganhar o Oscar. Deus e a Deusa? No mesmo ano? Quando ouvirem uma explosão por volta do final de Fevereiro, será a minha cabeça no Funchal.

sábado, novembro 06, 2010

"The social network"


Dustin Hoffman contou uma vez que, num jantar com Laurence Olivier durante as gravações de "The marathon man", perguntou ao lendário actor britânico a razão pela qual alguém escolhe a profissão de actor. Olivier parou um pouco. Ergueu-se da cadeira e colocou-se a milímetros da cara de Hoffman, dizendo repetidamente "Look at me, look at me, look at me." Se fosse vivo, Olivier teria sido um ávido utilizador do Facebook, pois esta é a sua natureza como rede social: o constante afirmar da nossa presença num mundo; a chamada de atenção permamente para os nossos gestos e pensamentos, como se tivéssemos encontrado um palco global; e por fim, como Sean Parker diz no filme "The social network", o ponto seguinte na evolução da mobilidade humana. Se das quintas mudámos para as cidades, das cidades mudámos para a Internet.

E no entanto, "The social network", é preciso esclarecer já isto, não é um filme do Facebook, nem acerca do que é o Facebook. Não é um biopic do seu criador, Mark Zuckerberg. Retrata, através de dois processos judiciais, as pantanosas origens deste projecto e o que levou Zuckerberg a ser o mais jovem bilionário da história. Vamos desde os dormitórios de Harvard até edifícios de betão em Nova Iorque, e Silicon Valley na California. O que "The social network" é torna-se difícil de definir enquanto vemos o filme. Um conto moral? Um drama de tribunal? Um filme de zeitgeist? Uma comédia negra? Eu próprio tenho medo de categorizá-lo. E talvez seja melhor ficar por aqui.
Assim sendo, o que o filme é, na realidade, é um relato dos factos, entregando ao espectador a tarefa de tirar sentido deles. Escolher o seu herói e escolher o seu vilão. Entre Mark Zuckerberg, Eduardo Saverin (o seu melhor amigo e co-fundador da rede social) e Sean Parker (bad boy informático fundador do Napster e mentor momentâneo de Zuckerberg a certa altura da história), temos motivações e princípios discutíveis. Se dermos primazia ao valor de uma ideia e sua defesa, Zuckerberg é o nosso homem; se formos mais sentimentais e admirarmos a amizade entre duas pessoas, apoiamos Saverin; se acharmos que o poder económico e a influência são tudo, puxaremos certamente por Sean Parker.
"The social network" é sobre muita coisa: sobre o nosso DNA básico como humanos, independentemente da entrada do mundo virtual na nossa vida; sobre a necessidade que temos de comunicar; sobre o poder da exclusividade e a luta eterna que travaremos em sermos aceites dos locais onde nos põem fora (no caso, o filme usa o habitat de Harvard e das universidades de Ivy League norte-americanas. Entre as muitas ironias do filme, não se perde a de que uma ferramenta que une tanta gente de forma democrática surgiu num dos meios mais exclusivos do mundo. E sendo tão universal e acessível, talvez como vingança contra o mesmo); sobre uma nova espécie de nerd que raramente aparece, aquele que movido pela vingança, está decidido a tomar conta do mundo. Mas é acima de tudo sobre ideias e sobre o timing de encaixe no nosso mundo. O Facebook vale não como prodígio da tecnologia, mas porque, como Zuckerberg tão bem se apercebeu, coloca toda a experiência universitária num site. No fundo, as nossas acções não são assim tão complexas. Na maior parte das vezes, as nossas motivações são primárias e simples, e podem ser todas encontradas naquilo que é o Facebook. O argumento deste filme é tão rico que esta é apenas uma das ideias que se podem ter. Falar sobre este filme não implicava um post, mas vários. Poderá acontecer.

É estranho que a grande vedeta de um filme de David Fincher seja o argumento, mas é verdade. O brilhantismo de "The social network" começa com o superlativo guião que Sorkin constrói habilmente. A estrutura de história principal e duas secundárias dos processos movidos contra Zuckerberg permitem expôr a informação de forma muito eficaz, rápida e, o mais importante, em entretenimento constante. Nós não somos atraídos pelo filme: basciamente, ele puxa-nos e não há volta a dar. As falas são apenas para actores fluentes em Sorkinês, que possuam a habilidade de disparar palavras como se a boca fosse uma metralhadora. Muito se fala netse filme, e já há muito que não via uma fita com uma dose tão grande de frases imediatamente citáveis.
Ajuda que o cast do filme saiba exactamente como dizer. Destacam-se com facilidade os secundários: Andrew Garfield, como Eduardo Saverin, é exactamente o tipo bem intencionado e de ideias pequenas (um crime para Zuckerberg) que nos deve mostrar. É quase impossível não sentir pena dele e da forma como se deixa levar e enrolar pela maré dos acontecimentos. Justin Timberlake põe o seu carisma ao serviço do nerd rock star, Sean Parker, o criador do Napster. A certa altura, é quase perceptível ouvir a língua de Timberlake bífida, como que se fosse um diabo; no entanto, isto nunca me fez diabolizar o personagem de Parker, e isso deve-se ao actor/cantor, que se está a tornar num caso interessante de músico transformado em actor. No entanto, o destaque principal vai para Jesse Eisenberg. Que interpretação! Eisenberg tem a habilidade de falar muito rápido, mas sempre a parecer mais inteligente que os restantes. Poucos actores conseguem fazê-lo, e sem isto, seria impossível interpretar a arrogância intelectual de Zuckerberg. Eisenberg é tão bom no papel que corre o risco de parecer demasiado natural para ser considerado uma interpretação, e só por isso ele corre o risco de não estar nomeado para o Oscar de actor principal.
Fincher não se apaga, como muitos têm dito, mas este é claramente uma fita para doutorados fincherianos. Não é perceptível de imediato a sua autoria, mas certos planos não enganam. Começou-se a criar o mito de que esta é uma novidade para Fincher, filmes palavrosos, mas "Zodiac" é mais palavroso e complexo a nível narrativo do que "The social network". Fincher traz ao filme duas coisas. Em primeiro, uma das melhores sequências do ano, numa regata de canoagem; noutra, a inteligência evidente de quem percebe o grande quadro. Tendo a inteligência suficiente para perceber a direcção certa da história, o realizador revela ser um excelente director de actores e alguém que consegue prender o espectador ao ecrã numa torrente narrativa, dando o melhor uso possível ao argumento de Aaron Sorkin.

"The social network" é para dois tipos de pessoas: fãs devotos de David Fincher e gente inteligente que ainda gosta de ir ao cinema à espera de ser bem alimentada, com um filme que fala de algumas das coisas que nos fazem mover hoje, e desde que nos começámos a aperceber de que somos gente. é sobre várias ironias: a dificuldade de socialização do homem que inventou a maior rede social da história; da democracia da comunicação surgida num dos ambientes mais exclusivos do mundo; de como uma visão, por maios revolucionária que seja, é sempre impossível de ser compreendida na totalidade; e de como num mundo movido por interesses, movido por falsas proximidades, há um elemento que nos faz andar a correr feitos doidos atrás das coisas: as pessoas.

quarta-feira, novembro 03, 2010

Ao longe, o mar...


A pedido de várias formigas, sim, há fotos da minha estada na Madeira, que provam inequivocamente de que não estou em casa, encerrado no meu escritório, a espetar petas.