quarta-feira, junho 30, 2010

História cíclica


Ronaldo jogou mal (e mostrou ser alguém intratável), a Espanha é claramente superior a nós, Simão quase não existiu e Ricardo Costa é um tumor. Posto estas razões para termos perdido o jogo de ontem, vamos à deliciosa história que compõe este post.
Um dos meus regozijos relativamente ao curso que tirei é o facto de, por mais futuro que tenhamos, o passado nunca foge e está condenado a repetir-se. Já ouvi piadas sobre a falta de importância das coisas mortas, mas na verdade, elas estão apenas adormecidas. Só esperam a altura certa para reaparecerem. Quando Carlos X da Suécia, com a Rússia à sua mercê, decidiu invadi-la no Inverno, num erro estratégico grosseiro, não esperava que Napoleão e Hitler fizessem o mesmo, nos séculos seguintes, com resultados igualmente catastróficos para os respectivos planos de conquista. Em ambos os casos, ficámos a ganhar. A isto chama-se "ironia histórica", e é um fenómeno que acontece com frequência, passando muitas vezes despercebido à generalidade do público. Ontem, na Cidade do Cabo, voltou a surgir em todo o seu auge, envolvendo um estratego que se julga Péricles, um condutor de homens brilhante e carismático como poucos: Carlos Queiroz.
Quando, ao minuto 58, com o jogo empatado a zero, o Professor retirou de campo Hugo Almeida para colocar Danny, dando assim espaço total a Piqué para subir no terreno e baralhar o nosso meio-campo, Queiroz espalhou-se ao comprido. Falamos de Queiroz, não admira. Mas imediatamente recordei um outro momento de puro queirosismo, em que uma pequena alteração de jogadores criou uma outra auto-estrada e virou um jogo do avesso, transformando-o numa hecatombe napoleónica. Penetro na bruma da memória e recupero a noite de 14 de Maio de 1994. No antigo Estádio de Alvalade, o clube da camisolas de lonas de praia e o Sport Lisboa e Benbfica confrontavam-se. Em jogo, estava o título. Moralizados, os viscondes tinham um estrádio cheio a puxar por si e defrontavam um Benfica que embora estando em segundo lugar, era claramente um outsider. O clube verdasco era claramente favorito. No entanto, uma primeira parte, com metade daquela que viria a ser a melhor exibição individual que já vi a um jogador, João Pinto carrega o Benfica às costas até uma vitória de 3-2. Queiroz era na altura o treinador do Sporting e já tinha feelings. Por isso, pressentiu que o segundo tempo seria de reviravolta e desencantou uma das ideias mais brilhantes da história.
Carlinhos tira um lateral esquerdo, Paulo Torres, para colocar Pacheco um extremo. Tal como no jogo de ontem contra a Espanha, o efeito prático foi colocar uma via aberta em campo, que o bíblico Isaías do Benfica aproveitou para marcar dois golinhos à lagartagem. Num dos seus passes de magia e saber táctico, Queiroz conseguiu que o melhor plantel do campeonato, jogando em casa e claramente favorito, sofresse a sua pior derrota contra o Benfica nas últimas décadas. Se isto não é de génio, não sei o que será. Queiroz pode pretender saber muito de navegação e dos Descobrimentos Portugueses, mas decerto queimou os restantes compêndios de história. Homens mesquinhos e arrogantes estão condenados não só a repetir os erros dos seus próprios pares, mas também os seus próprios erros. Da próxima vez, Carlos, mantém o bigode, que esse ao menos até te granjeava simpatia.

quinta-feira, junho 24, 2010

Melhores momentos

E a grande vitória da Coreia do Norte sobre o Brasil?

Pelo menos de acordo com o copacto da televisão estatal norte-coreana)

domingo, junho 20, 2010

quarta-feira, junho 16, 2010

Lição número...


Já é lugar comum dizer que Portugal é um país de analfabetos. Se isto deixou de ser verdade com o passar dos anos, ainda se mantém inegável o facto de um viveiro onde analfab rutos pululam. A nossa língua já não é a nossa Pátria; aliás, é apátrida, pois com acordos e acordozinhos ortográficos, depojámo-la das suas raízes e daquilo que a fazia verdadeiramente nossa, um pedaço de transformações históricas, uma marca inegável da passagem do nosso tempo cultural. No entanto, não é disto que venho falar. Serve este facto de sintoma de um mal muito maior de que padece Portugal. É um mal que se reflecte na polémica nova lei que permite a alunos do 8º ano de escolaridade saltarem o 9º através de um simples exame.
Antes de mais, não percebo de onde vem a polémica. Para haver polémica, era preciso surpreender, o que não acontece., É uma lei filha de dois pais: a noção de que passar de ano deve equivaler a uma idade limite, e também à utópica "ninguém pode ficar para trás, não há alunos burros". Este princípios moldam a noção de escola à portuguesa. O esforço dos que têm melhores notas é recompensado pelos resultados, mas o esforço dos alunos medianos é ignorado. São alunos que, apesar das suas limitações, acreditam que o trabalho os poderá compensar para serem bem sucedidos. O que esta lei faz, basicamente, é dizer: aguentem uns anos, relaxem, que fazem um testezinho e vão para o Secundário - não trabalhem. Promove-se o laxismo e castiga-se a competência de várias maneiras neste nosso cantinho, mas penso que estamos a tentar começar o mais cedo possível a fazer isso.
Reparem que consigo entender a famosa noção de "escola inclusiva", onde todos os alunos devem ser apoiados para progredirem pedagogicamente, mas na minha cabeça, isso fez confusão, proque o ensino é não só um direito, mas também uma aprendizagem em si. Ensinam-se conteúdos, mas também valores. Define-se o que é justo e o que não é. Professores injustos fizeram mais pelo desinteresse dos alunos do que qualquer programa escolar dito "secante". Muito alunos não se dedicam à escola, simplesmente por achar que não vale a pena.
Ora, é aqui que regressamos ao início. A Educação é tratada neste país como a Cultura: algo que se tem de garantir, mas sem grande esforço e planeamento. Há uma fórmula geral, que se considera certa, e não se mexe muito. Nem vale a pena. Esta lei vem, como disse, nesta corrente de pensamento. A de que "deixa andar, vamos passar este mal para outro" e o processo de ensino, que devia ser construtivo, é um vê se te avias e disperso. Num país onde se queixa que os miúdos não querem aprender, começa ser demasiado gritante o desnorte na hora de ensinar. Isto, em si, é uma lição para quem ainda acredita que tudo corre bem actualmente. Ou melhor, atualmente, como alguns senhores querem que se escrevba agora.

quinta-feira, junho 10, 2010

"Justified"


Há uma cena no primeiro episódio de "Justified" em que disse para mim:"Sim, claro que vou ver esta série até ao final." Nela, Rayland Givens, o principal personagem da série, aguarda a oportunidade de interrogar uma mulher acerca de eventos sangrentos referidos anteriormente. Givens acaba de ser despachado de Miami para o seu Kentucky natal, após um tiroteio muito à margem da lei. Givens saiu do Kentucky aos 19 anos por uma razão e ter de voltar é um custo. Por isso, quando um labrego neo-nazi entra pela casa da testemunha adentro com claras intenções hostis, ele não perde a compostura e mantém um laconismo quase espirituoso( sample dialogue "You're an undertaker?"/Well, I might be undertakin' this situation here") e uma autoridade que culmina a cena com a cara do neo-nazi no volante do próprio carro. Tudo sem ter de puxar a arma, sem grandes cenas de acção. Só com presença: pura badassery. Eu estava conquistado.
E porquê? Porque "Justified" é uma série à moda antiga, daquelas em vias de extinção. Baseada numa short story de um dos gurus actuais da literatura criminal norte-americana (Elmore Leonard, o autor do livro em que Tarantino se baeou para escrever "Jackie Brown")tem um protagonista que se inclina perigosamente para o lado dos cowboys (de facto, nunca abdica do seu Stetson), é de uma economia de diálogos e narrativa admirável e descreve acutilantemente o south way of style do Bible Belt norte-americano, enveredando por temáticas morais e religiosas com dose de entretenimento e alimento para o cérebro. A série aborda a culpa, a redenção, a raiva e relações familiras (com especial enfoque em pais abusivos) sem carregar na pregação. É, espantosamente, uma série policial sem paneleirices científicas e uma análise de personagens mais através de hábitos que de grandes discursos. Resumindo, apesar do ar clássico, é bem refrescante.
A escrita e realização da série são excelentes, mas é sem esforço que, num competente elenco, Timothy Olyphant se destaca como o U.S marshall Rayland Givens. Lembrando um Clint Eastwood com mais charme e uma voz menos agreste e granítica, Olyphant regressa ao território que o revelou em "Deadwood", depois de um desvio infeliz como protagonista do filme "Hitman". Olyphant capta o principal do personagem com mestria: a pose, o sotaque southern, o olhar, o ritmo do diálogo. Olyphant tem de caminhar uma linha muito ténue entre a coolness e frieza de Givens e um âmago em ebulição de raiva, abanado por um interesse amoroso complicado, pela sua ex-mulher, pelo melhor amigo criminoso (excelente Walton Goggins) e pela sua relação muito pouco afectuosa com o seu pai. É muito difícil gerir estas duas dimensões com sucesso e numa e outra vez, Olyphant consegue fazê-lo.

"Justified" recomenda-se a quem quer descansar a cabeça de enigmas complicados e crimes com análises de ADN, comparações de trajectória de balas e também personagens mal amanhados. Recomenda-se vivamente a quem aprecia boas histórias, tensão a partir de coisas simples e diálogos do mais cool que há. Coisas como isto:

Raylan: I can only imagine how hard it has been for you to get where you are in the Marshal service
Rachel: Because I'm black or because I'm a woman?
Raylan: Because you're an idiot.

quarta-feira, junho 09, 2010

Ahm, 9 de Junho, não é?


"A beautiful girl can make you dizzy, like you've been drinking Jack and Coke all morning. She can make you feel high full of the single greatest commodity known to man - promise. Promise of a better day. Promise of a greater hope. Promise of a new tomorrow. This particular aura can be found in the gait of a beautiful girl. In her smile, in her soul, the way she makes every rotten little thing about life seem like it's going to be okay."