terça-feira, setembro 24, 2013

Viagem em torno de mim mesmo


Na graça deste ano sem grande piada, fiz-me à preia mar que me tem deixado em baixa, e numa viagem em torno de mim mesmo, de circum-navegação permanente e onde a cabotagem tem sido o capote deste cabotino ser, posso anotar no meu diário de bordo, vazio nesta quinzena em que vos deixei náufragos da deriva habitual das minhas emoções e capacidade maior de elevar a minha estupidez natural a objecto de interesse, saltei pontos de vista, e de gramática, e descobri sobre mim rotas que registei num mapa traçado sem linhas de crescimento.

Descobri que sou mais crescido que pensava, mas ainda assim pequeno quando se pede ser adulto, desmentindo verdades sobre ser criança e forçando-me a enfrentar dez anos da minha vida onde talvez me tenha recusado a ser eu como devia, e me tornei numa caricatura que apenas se transforma em traço objectivo e superlativo muito de vez em quando. A espaços, quando me devia espremer e apertar, para me fazer sair. Não sei se ainda vou a tempo, mas corro na mesma. No máximo, perco a corrida, mas ganho mais de mim.

Descobri que é possível ver um estranho em alguém que se conheceu durante 30 anos, mas que são precisamente esses anos que devolvem ao estranho a capacidade de ser ele mesmo.

Descobri que afinal não choro sempre, mas só de vez em quando; e que quando se semeiam lágrimas, colhem-se estátuas permanentes da nossa dor, mas também da resistência ao tempo que apenas se encontra na memória que guardamos e nunca abandonaremos à mercê de qualquer choro.

Descobri que quando quero, posso ser bom. O meu problema, de facto, é a falta de vontade.

Descobri que através dos meus olhos, posso ver outra dimensão, e captá-la, e outros gostam. Mesmo que nunca lá tenham estado e só exista o meu testemunho a comprová-lo.

Descobri quem são vocês, aqueles com quem me quero partilhar, e doer. Também me lêem. Obrigado. Aos outros, com quem não me quero partilhar mas por aqui passam, obrigado também. Mas desculpem-me apenas vos mostrar a ponta dos cabelos, quando aos outros exibo tudo aquilo que em mim fervilha e arde.

Descobri que escrever me é tão essencial quanto dispensável é esta dor que sinto nas mãos; e tento que uma não condicione a outra.

Descobri que as minhas baboseiras não são muito diferentes dos outros. A prova está em cima. Felizmente, estão cá vocês para ver na baba um resquício de água cristalina; e aí, a descoberta maior, e mais mágica, é a vossa. Obrigado, gente.