sexta-feira, maio 20, 2011

Que sociedade temos?

O meu entendimento de economia é muito básico. Apesar de ter lido mais sobre ela nos últimos tempos, em parte para perceber a crise, em parte porque a matéria de 8º ano que lecciono envolver algumas básicas noções económicas que tenho de traduzir para miúdos que têm a dificuldade em perceber conceitos simples como "Indica" ou "Refere", não sou um perito em finanças ou funcionamento da máquina monetária que (dizem) suporta o mundo. É uma lacuna, assumo-a, toda a gente tem brechas na armadura.
Uma coisa onde já estou mais à vontade é em ideologias e lógica ideológica. Estudei-a com mais pormenor e atenção, e considero-a bem mais interessante que sociedades anónimas e capitalismo financeiro. Por isso, pergunto: porque é que todas as tentativas de resolver uma crise que, longe de ser só económica, é também social, giram em torno do valor do dinheiro e não do valor da vida de cada um? Porque é que o pensamento é em gerar mais dinheiro para uns poucos fazendo parecer fácil destruir as condições de vida de uns tantos? Porque quando ouço falar em cortar salários, e benefícios sociais, e deixar ao desbarato algo tão necessário para o ser humano como a cultura, essas soluções nos são apresentadas como lógicas.
Podia ir por aí fora a explicar porquê... Mas o quadro está pintado de forma tão óbvia que até me admira como o museu onde se expõe ainda não foi queimado até aos alicerces.

2 comentários:

João Saro disse...

Gerar menos dinheiro traz melhores condições para combater os problemas sociais. É possível defender esta tese, mas...

Carlos de Figueiredo disse...

Depois da já longa e duradoura crise de valores e moral, a nossa sociedade entrou na rota do desrespeito pela cultura como um todo. Em tempos de crise diz-se que o investimento na cultura é o primeiro a sofrer. O problema é que, mesmo em momentos de mais desafogo económico, Portugal insiste em desvalorizar a importância de uma boa educação escolar, tudo para que as estatísticas do ensino sejam mais apresentáveis perante a União Europeia. Os nossos jovens têm hoje à sua disposição ferramentas como a internet, rede alargada de bibliotecas, cinemas espalhados por todo o país e museus razoáveis. Contudo, todo esse universo de conhecimento e acesso à cultura é desprezado em detrimento do entretenimento fácil e das intrigas inanes das redes sociais. Que adultos teremos no futuro? Dificilmente serão melhores, mais bem preparados e mais honestos que os que temos actualmente. A deterioração da nossa população juvenil é um sinal dramático da decadência de uma sociedade que pensa apenas nos números, sejam eles das estatísticas ou do dinheiro, e esquece o factor humano e a capacidade de pensamento crítico. Já somos pobres há muitos séculos, mas à magreza da carteira juntamos agora a magreza das ideias.