quarta-feira, novembro 06, 2013

O primeiro em Novembro



O blog é meu, por isso permitam-me uma pequena aulinha de História: o 1 de Novembro foi instaurado no século VIII e celebrava, inicialmente todos os santos e mártires que tinham morrido em nome da Igreja. No entanto, o feriado em si é mais antigo e data do quarto centénio, quando por uma questão prática de juntou num só dia (por ocasião do 13 de Maio, curiosamente) todas as celebrações dos mártires da Cristandade, visto que o ano tinha 365 dias e os Romanos eram particularmente bons a matar cristãos, com uma eficácia superior à quantidades de números disponíveis no calendário. Podemos recuar ainda mais para encontrar o sagrado neste dia. O "Samhain" celta celebrava-se por esta altura (entre 31 de Outubro e 1 de Novembro) e embroa não tenhamos a certeza de que envolvia a crença de que os mortos regressariam a este mundo para se aquecer na lareira, é certa de que representava não só a questão prática da passagem do ano e mudança de colheitas, mas também o período em que Sidhe, divindade máxima dos Celtas, como que abria a cortina entre este mundo e o outro, permitindo que os humanos e os não-humanos (como os duendes ou os elfos) pudessem comunicar e observar mutuamente. Pode parecer algo muito distante, mas vem daqui, por exemplo, a tradição do Magusto, e na zona galaico-portuguesa, estas tradições têm sido recolhidas e consideradas parte fundamental do folclore local. Ainda hoje marca o Solstício de Inverno (nas marcações de certos monumentos megalíticos) e passagem do Verão para o Inverno.

Este feriado não é religioso: é anterior a nós todos, e aos que estão para trás, representando o que somos cá dentro, as nossas crenças extra racionalidade e a mundividência que o Ser Humano criou e herdou na passagem das gerações. É ontológico, e o que não é lógico é que se acabe em nome de uma coisa tão passageira quanto é o dinheiro. A nossa relação com o Passado e com os mortos, aquilo em que transformámos esta celebração de Vida, é importante. Mas uma sociedade sem Memória é uma sociedade de pessoas e não de gentes. A eliminação do primeiro de Novembro é culpa nossa também, que não sabemos respeitar a sua importante na ordem da existência.

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