quinta-feira, agosto 08, 2013

Uma expiração


Os Árabes fundaram um dia Aljezur, e por que razão o fizeram não sabemos. Talvez se tenham enamorado do mar, tão diferentes de outros mares de areia a que estavam habituados. Quanto a mim, apenas desejava rumar ao sul e pisar o distrito de Faro pela primeira vez, o único em todo o território continental que as solas do meu calçado não tinham alapado a borracha. Sendo eu português há uns 30 anos, parecia mal que o Algarve nunca tivesse possuído os meus olhos. 2013, o ano da incerteza, acabou por me conduzir a esse território desconhecido. Já aqui desenvolvi a minha falta de gosto pela praia, em contraste com a calma e puro prazer de mergulho com que o mar me arrasta por si dentro, sem respeito qualquer pelo meu auto-controlo. O Algarve é definido por este mesmo elemento, que num lençol refulgente se espraia até um limite fictício nos nossos olhos, e pela terra em partículas finas onde os turistas estendem a toalha. Algarve é praia, e quem o visita tem só apenas esse objectivo na ideia. Na sua paisagem, não se pode deixar de pensar que o território algarvio acaba por ser um prolongamento do Alentejo, e da sua estranha mistura entre um verde ordenado exótico com a secura que o sol traz à terra, e dá tons pálidos e dourados ao que a nosa vista cobre e procura. Foi assim que vi o Algarve, e nunca consegui deixar de pensar na paisagem alentejana enquanto o visitava, permanentemente confundindo as províncias em erros inconscientes. Faz parte da maldição desta terra, que tem tanto que ver, e é reduzida a um mero local turístico de veraneio marinho, algo que é alimentado por quem lá vive. No fundo, é também um sintoma da falta de imaginação com que este país é rumado ao ram ram do já batido.

Outras ideias me cruzaram a cabeça esta semana, mas não quero falar aqui sobre a maior parte delas. Mas quero dizer que entrei novamente numa casa que já não visitava há muito, e apenas entrevia em telefonemas. Soube bem, como se de facto o tempo não fosse linear, e pudéssemos realmente esticar o espaço em quilómetros éter dentro de nós, sem scuts ou portagens, porque a amizade é gratuita entre quem se gosta, e quem sabe que meias palavras são enciclopédias de conhecimento entre amigos.

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