quarta-feira, novembro 16, 2005

Dramas que nem à pancada se resolvem





O drama da negação amorosa é daqueles que mais dói e já dizia a música, "No is the saddest experience you'll ever know". O que mais custa na negação amorosa é que temos uma escada feita de esperança, que começam a despedaçar por baixo sem sabermos muito bem proquê. esse mistério que é o "Não" do sexo oposto (no meu caso uma rapariga) raramente nos é desvendado. O "Não" é dito e pronto. Acabou. É inapelável e não se dão justificações. A outra pessoa é um pouco como o feiticeiro de OZ, atrás da cortina, a controlar a situação; nós acabamos por ser um dos que o visitam, à espera de respostas; e ser mantido na ignorância é a pior coisinha que se pode fazer a quem é rejeitado. Principalmente, como é o meu caso, se esse alguém for inseguro.

Porque aí a negação torna-se uma cruz pessoal pronta a carregar e levar por aí. Se já nos custava termos levado uma tampa de uma rapariga de quem gostamos a sério, começamos a interrogar-nos acerca do porquê da negativa. Começa então a maravilhosa fase de auto-comiseração, de flagelação pessoal, de um caminho neurótico do qual não há propriamente retorno: apenas umas folgas de vez em quando, para fazer uma paragem no oásis à beira da estrada. O círculo vicioso aparece: se somos inseguros, é pouco provável que alguma rapariga volte a olhar para nós com olhos de ver; sentimo-nos então cada vez mais deprimidos porque achamos que a coisa não tem remédio e damos por nós sozinhos, azedos com a vida, cínicos e achando que a coisa nunca mais tem solução.

Vamos pensando que a primeira é que custa, as outras serão menos dolorosas porque já estamos preparados para ouvir a maldita palavra. Mas não. Uma, e outra, e outra vez, é como uma punhalada que dói, mas dor a sério. Daquela que queima, que arde, que arrepia. Cada tiro, é cada melro, cada tentativa um fracasso. É então que aquela coragem natural que se tem para se avançar em frente desaparece, e fechamos a loja. Passamos a amedrontar-nos ao gostarmos de alguém, pois se queremos estar com essa pessoa de forma diferente, mais tarde ou mais cedo temos de lhe dizer o que sentimos. Mas como, se dói? Se de cada vez que fazemos dói mais que as outras? Como, se cada "Não" é como um prego que estão a enfiar no nosso caixão?

É então que o nosso drama pessoal, que apesar de forte começou pequenino, ganha contornos de cabala cósmica. A culpa deixa de ser só nossa e é partilhada por essa entidade abastracta que responde pelo nome de Destino. Muitas vezes, há quem procure Deus, não para pedir ajuda, mas para ter alguém para descarregar as culpas. Num certo sentido, todas estas artimanhas acabam por nos aliviar, pois já não temos a consciência pesada: não somos só nós que somos imprestáveis, pois algures, no sítio onde as teias do acaso são tecidas, alguém tem uma agenda de maldade preparada para nos chatear e arranja maneira de dar nós no nosso fio. Acaba por não melhorar tanto a situação, piora-a mesmo porque o facto de não arranjarmos alguém é mais trágico e impossível que aparenta (como pensar o contrário se até o Destino está contra nós?), mas por outro lado desculpabiliza-nos; e logo aí se perdem uns 10 quilos de peso (parecendo que não, a culpa não é nada levezinha).


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