segunda-feira, novembro 07, 2005

Homenagem a Inês de Castro: Parte I

- Boa tarde a todos. Como sabem, Inês de Castro morreu há 650 anos e isto agora anda aí num valente 31 por causa disso. Fazem-se peças, exposições, obras de arte (ou pelo menos chamam-lhe isso), discursos, inaugurações, a senhora Leontina diz que sim, o senhor Adalberto diz que não, uns chamam-lhe nomes feios, outros nomes bonitos, outros ficam obcecados e professores estagiários têm notas à custa dela; e ninguém lhe pede autorização, o que é mais grave. Isto hoje em dia dá dinheiro e a senhora está com o túmulo que parece uma lástima, caramba.
Por isso, nós decidimos fazer o impensável: comemorar a aniversariante para a festa. Já parecia de mau tom haver forrobodó e a principal convidada estar de fora. Porque de uma coisa ninguém tenha dúvidas: existe um mundo invisível. Resta saber se fica longe da Baixa e a que horas está aberto. Estão constantemente a acontecer fenómenos inexplicáveis. Um homem vê-se a voar; o outro, ouve vozes; outra, acorda em cima de uma bicicleta a descer da Alta até à Baixa de Coimbra, todo nu, com um sombrero na cabeça e um saco de serapilheira às costas. Quem de entre nós não sentiu o contacto de uma mão fria contra a nuca em sua casa? Eu não, Aida bem, mas há quem tenha. O que está por detrás dessas experiências? Ou pela frente, já que estamos a falar sobre o assunto? Será verdade que certos homens podem comunicar com fantasmas? E é possível tomar duche depois da morte?
Os fantasmas são gente que geralmente morre de forma misteriosa. O meu vizinho Alfredo, por exemplo, morreu de forma estranha, quando um tractor com arado de ferro lhe passou por cima. A mulher, um dia, viu-o à noite no quarto. Perguntou-lhe como era o outro mundo e ele respondeu-lhe que era pouco diferente da Solum. Quando ele se foi embora, atravessando uma parede, ela seguiu-o e como resultado, partiu o nariz. Outro caso que conheço é o do meu primo Josué. Ele disse-me que o espírito dele saiu do seu corpo e foi dar uma volta. Ao que parece, foi até ao Conselho de Ministros ver se eles faziam alguma coisas, mas quando começaram a jogar às adivinhas, ele logo viu que não dava em nada e veio-se embora. Depois, foi até à Cervejaria do Martelo, onde ficou a dever 60 euros; e ainda teve tempo para tocar em violino a Nona sinfonia de Beethoven com a Orquestra Metropolitana de Lisboa. Quando deu pelas horas, ia dar o Benfica e ele voltou para casa.
Felizmente, temos connosco um homem capaz de responder a todas as dúvidas e melhor, falar com Inês de Castro. Ele é o autor de livros como “Buu!”, “Ai que susto” “Ah ah ah – gargalhadas meio esquisitas numa noite de luar, quando passeamos por um pântano onde habitam vaga lumes, lagartos e um ou outro crocodilo, vá lá”. Connosco, o doutor Abílio Barbosa. Palmas para ele.

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