sexta-feira, outubro 26, 2007

Recortes de um dia

Num blog de uma amiga, referem-se os novos anúncios da Nicola, que anunciam "Um dia vou fazer x coisa. Hoje é o dia". Na verdade, fazem-me lembrar um outro que há tempos referi neste blog e que é do "Por acada beijo que dá, a sua vida aumenta um minuto." Na altura, comentei que vou morrer cedo. Neste comento que este tipo de coisas é publicidade enganosa e uma piada de mau gosto a quem, como eu, não tem um campo sentimental fértil: o que diz "Um dia, beijo-te a meio de uma frase" rasa perigosamente o ataque pessoal e a chacota à minha pessoa. Cheira-me que ainda vou ganhar muito dinheiro à custa da Nicola.

Saio do ensaio do teatro, que é para mim um mundo com regras algo diferentes daquelas que regem outros espaços da minha vida (e só por isso, percorri o 4ª andar da FLUC com uma amiga minha num carrinho de compras, e nem perguntem mais nada), e dois colegas meus introduzem-me a 3 caloiras do seu curso. Primeiro, é interessante notar que é preciso chegar ao último ano para me apresentarem caloiras. E o argumento "Tu não sais à noite" não funciona, porque, bem, tecnicamente não estava a sair à noite. São 3 pessoas diferentes: uma que fica calada durante o quarto de hora que durou a conversa; uma que se choca alegremente com qualquer piada feita com humor negro, algo que especialmente me atrai; e uma outra que enquanto se afirma muito, muito católica (e estou a citá-la), enceta uma piada acerca de uma pseudo-tentaiva de suícidio sua, o que também me atrai, porque adoro um certo paradoxo nas pessoas. O desenrolar da conversa é um crash-course, ao biqueiro, para quem não me conhece: destila sarcasmo, percorre ácido e não se fazem reféns no meu processo de conhecer pessoas. Após vários trocadilhos de qualidade duvidosa e uma ou outra piada sobre religião, a muito católica já me olha muito séria; e no entanto, ainda se ri, sinal que estou a 5 minutos de ser degolado. É nessa altura que se decidem ir embora. É pena. Porque ela estava naquele ponto sem retorno em que quem não me conhece me começa a entranhar. Acabo por perceber que o meu método abrutalhado de me introduzir aos outros tem a facilidade de criar uma empatia co os outros, mas o enomre defeito de não lhe smostrar sequer 3 quartos daquilo que sou sem as piadas. É um pormenor a limar.

Outro pormenor a limar, ainda mais importante: melhorar a minha ética de trabalho. Quem é que eu estou a tentar enganar? Tenho é de arranjar uma.

Ofereço uma prenda a alguém. A pessoa gosta e o meu dia começa com um ligeiro crepitar na barriga que me faz acreditar que posso fazer alguma coisa certa de vez em quando e que a vida não pode ser assim tão má como eu a quero fazer.

No ensaio, alguém me dá uma palmada no rabo. A demência já chegou ao mundo do teatro. Esperem, esqueci-me da revista à portuguesa.

Pessoas que deixam de nos ligar de repente sem motivo aparente. Lembro-me que o assunto me fascina de sobremaneira.

Um grande amigo está no hospital. Não o vou visitar, mas telefono-lhe. Sinto-me pessimamente, tipo esterco, mas uma piada minha fá-lo rir. Sinto-me menos esterco, mas ainda assim, esterco. Há dias em que me pergunto porque é que ainda há gente que me tem como amigo.

Escrevo 3 posts num blog. Torrentes de palavras, o que para mim é uma novidade recente. Será o acordar de uma ética de trabalho?

1 comentário:

ni disse...

"Um dia juntamos as escovas de dentes. Hoje é o dia!" é uma das minhas favoritas...
:)