quarta-feira, abril 09, 2008

E isso me envaidece

Tenho guardado uma série de assuntos em mim, nos últimos dias, para espalhar neste blog. Tem-me faltado vontade e indecência para o fazer. No entanto, vamos a um deles.
Como todos sabem, o Porto ganhou o campeonato. Parabéns aos jogadores que correm em campo e suam, porque esses jogam à bola (na verdade, dos 3 grandes, são os únicos que o fazem; nem é uma questão de o fazerem bem. Se o fizessem, tinham ganho ao Schalke, a pior equipa nos oitavos de final da Liga dos Campeões.)
Depois, o presidente desta agremiação desportiva regional recebeu uma nota de culpa por causa de um processo de corrupção. No mesmo fim de semana, o meu clube é vergonhosamente roubado e os seus dois adversários directos na luta pelo segundo lugar beneficiados nos respectivos jogos.
Após pensar qual o melhor ângulo para abordar o assunto, decidi dar voz a alguém que é claramente melhor que eu eu não só a escrever, mas a gozar com a injustiça e a vergonha alheia. Ricardo de Araújo Pereira, na sua crónica d' "A bola" de sábado escreveu assim:

Futebol para intelectuais

Um clube cujo presidente é acusado de corrupção activa sagrou-se campeão frente a uma equipa cujos jogadores têm os salários em atraso. Viva o futebol português!

Há países em que o futebol se resume aos pontapés que se dão na bola. Uma tristeza. Aquela frase com que as mulheres costumam definir o nosso passatempo preferido, para amesquinhar o jogo e quem gosta de o ver, não se aplica ao futebol português: «Isso são 11 homens a correr atrás de uma bola.» Nada mais falso. Além dos jogadores a correr atrás da bola, parece que há juízes a correr atrás de um bilhete grátis, advogados a correr atrás de uma brecha na lei, juristas em geral a correr atrás de uma prescrição. É preciso saber muito de leis para compreender o futebol português. A mim, que sou um pobre ignorante, faltam-me muitos conhecimentos para o entender.

Primeiro, faltam-me noções de direito. No código penal português, como é lógico, a tentativa de corrupção tem uma pena maior do que a coacção. Na justiça desportiva, coacção dá descida de divisão e tentativa de corrupção implica perda de seis pontos. Só um jurista muito sofisticado pode compreender o espírito destas leis. No futebol português, uma equipa acusada de ter um jogador inscrito irregularmente, como o Belenenses, arrisca perder seis pontos. Uma equipa acusada de corromper dois árbitros, como o Porto, arrisca perder os mesmos seis pontos. Um erro burocrático tem a mesma pena que um crime. É possível que um homicídio, no âmbito de um jogo de futebol, em Portugal, valha ao assassino uma admoestação verbal. No máximo, um cartão amarelo.

Depois, faltam-me conhecimentos de português. O presidente da Liga de clubes, Hermínio Loureiro, cuja eleição foi apoiada por Pinto da Costa há mais de um ano, prometeu celeridade a lidar com este caso baseado nas escutas que se conhecem, também, há mais de um ano. Celeridade, notem bem. Eu pensava que celeridade queria dizer rapidez. Afinal, significa 14 meses.

Finalmente, faltam-me conhecimentos de xadrez. O futebol português ficou de tal modo sofisticado que parece o jogo dos reis. Reparem: o Benfica joga hoje com os axadrezados sem saber se um ou mais dos antigos dirigentes do Boavista vão, ou não, passar algum tempo no xadrez. Há notícia de árbitros que vão a casa de dirigentes buscar um cheque que, não sendo cheque-mate, pode ser suficiente para matar um jogo. Não sei se hei-de recomendar ao Chalana a táctica do 4-4-2 ou a do gambito do rei.

P.S.: No Paços de Ferreira-Guimarães, o Paços teve um golo mal anulado e um penalty não assinalado. Na minha opinião, o jogo mais interessante da época vai ser o Guimarães-Porto. Será curioso descobrir qual das duas equipas será mais beneficiada.»

RAP

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