quarta-feira, novembro 21, 2007

O politicamente doente


Os Estados Unidos são um país com duas camadas, no que à cultura diz respeito: por um lado, têm algnuns dos artistas mais brilhantes do showbiz a criarem coisas magníficas, que fazem parte da nossa mochila cultural interior e se inserem no nosso DNA de referência automàticas; por outro, criaram grupos de escrutínio dos media, que re-aarranjam essas mesmas oras brilhantes de modo a que correspondam a padrões de politicamente correcto e de aceutável pelas normas vigentes daquilo que não se deve incomodar. Com a proliferação de lobbys de defesa de determiandos grupos étnicos, religiosos, ideológicos e sexuais, os artistas ficam sempre a perder: cenas de sexo, memso importantes para o desenrolar de uma história? Esqueçam; o uso de palavrões que pode definir o carácter de um personagem? Usem outra coisa!; alguém pegar em duas pistolas e massacrar 20 gajos? Já pode ser.
No entanto, nada me preparou para a última vítima de revisionismo histórico. O caso de "E.T", em que Steven Spielberg apagou pistolas de agentes do FBI para as substituir por lanternas foi largamente discutido. "ET" é um dos marcos da infância de muita gente, onde me incluo, e um filme marcante para aquele que não eram crianças quando o viram. Mas o que é "ET" comparado com "Rua Sésamo"? Este é O programa infatil por excelência. Conhecemos a música, os personagens, aquele mundo foi em determinada altura o nosso, onde podíams ir a casa da Avó Chica comer um doce, comprar um saco de mação na mercearia do senhor Almiro, ouvir o Zé Maria ler-nos uma história na sua livraria, perguntar ao André o que poderia ele fazer relativamente àquela nossa estante que estava estragada ou simplesmente sentarmo-nos num banco à espera que a Guiomar passasse.
Os produtores da versão origal norte-americana, idealizada pelo grande Jim Henson, estão prestes a dar uma machadada nas memórias das crianças do lado de lá do Atlântico, com a intenção de atenuar alguns pormenores da versão original que podem ferir susceptibilidades hoje. Primeiramente, sou contra estas coisas, mesmo que as razões possam ser muito boas: os objectos culturais são o espelho do seu tempo. Nunca me ouviram pedir que se queimem ou guardem para que ninguém possa ver os documentários de Leni Riefenstahl acerca das comemorações nazis. No entanto, os responsáveis pela Rua Sésamo desencantam motivos que não lembram ao careca. Recordam-se do Monstro das Bolachas? Sim, destrambelhado, guloso e fofinho. Pois na edição em DVD das primeiras seasons, a ser lançada este mês, boa parte dos sketches em que ele come bolachas e doces afins vão desaparecer, pois são considerados uma apologia às diabtes.
O Ferrão, aquela criatura mal-disposta, rezingona, sarcástica e misógina? Leva outro corte porque, segundo os produtores, é um personagem em depressão e as crianças não toleram personagens deprimidos. E o mesmo se aplica ao Becas, que raramente é visto bem disposto e tem um ar perpetuamente carrancudo. Já o Egas via levar um jeitinho porque parece um atrasado mental. Estes dois, aliás, eram uma relação gay nunca assumida, na visão dos produtores. E há mais: cenas campestres não podem incluir agricultores a carregar baldes de comida sem luvas e as vacas devem comer relva, não ração com hormonas; um skecth onde dois perosnagens encetam uma luta de almofadas é cortado porque há o risco sério de poder levar a lesões na cabeça, caso seja tentaod em casa; e o Poupas, o simpático e amigo Poupas, verá as cenas em que ele vê uma criatura imaginária que mais ninguém vê retocadas, porque dão dele a imagem de um maluco.
Caramba... Só nestas linhas, percorri uma parte da minha infância e começo a pensar se algumas das razões pelas quais não bato bem da cabeça se prendem com essa série papão e molestadora de criancinhas que é "Rua Sésamo"...
Quem, como eu, acha este politicamente correcto perfeitamente estúpido, grite "Peixe, peixe, peixe!".

1 comentário:

Dieubussy disse...

É vergonhoso. E a nossa geração que ousou pensar que era super-protegida. As crianças precisam de conhecer melhor o mundo, mesmo em tenras idades... ver com os seus prórios olhos e ficarem chocadas com pequenos aspectos da vida. É assim que se aprende, é assim que se criam memórias e se forma uma personalidade. Privá-las destes conteúdos diz muito da anterior geração, mais do que diz da nova. Não são as crianças que pedem este género de censura... são os pais e os avós. São os grupos de educadores que pensam conseguir manter os filhos presos ao ideal de mundo perfeito que nunca existiu.

Isto ultrapassa toda a compreensão. Ainda bem que vivemos num país onde, ao menos, os filmes que vemos mantém, na grande generalidade, os idiomas falados de origem e onde a censura é um tabu. Temos os activistas do pós 25 de Abril para nos abrigar dela. Qualquer miúdo pode entrar numa loja e comprar um filme adulto sem que nenhuma lei que o proíba. Ou um CD de música censurada, ou um jogo para +18, ou comprar cerveja e tabaco apresentando o pretexto de que é para o pai.

Ah grande condado portucalense...!