sábado, novembro 17, 2007

"Rescue dawn"



O novo de Werner Herzog proporcionou-me a rara experiência de ver um filme europeu no cinema, apesar de ser falado em inglês. Christian Bale interpreta o personagem principal, Dieter Dengler, um piloto norte-americano de origem germânica que se despenhou no início da guerra do Vietname em território asiático, sendo preso. Mas essa é só a primeira parte da história; a segunda é uma fuga destemida de um campo de prisioneiros no meio da selva, que Dieter partilha com Duane, um homem que já se encontrava no campo quando Dengler chegou, interpretado por Steve Zahn.
Herzog não desiste desta história, que já tinha até abordado num documentário intitulado "Little Dieter needs to fly". É fácil de ver qual a obsessão do realizador com Dengler: os pormenores da sua narrativa abordam dois dos temas que percorrem a sua obra, a imponência, dureza e majestade do factor natural e o correspondente esforço e engenho incríveis de homens que se propõem a enfrentá-lo. Boa parte da filmografia de Herzog parte dessa dinâmica conflituosa ("Aguirre", "Fitzcarraldo", e o recente documentário "Grizzly man" são os melhores exemplos) e os filmes pelo qual o recordamos. Herzog sabe como poucos filmar o estado natural dos elementos e tem uma enorme paleta com que trabalhar nos arrozais e florestas densas do Vietname. O filme é poderoso num ecrã de cinema, porque ficamos obviamente reduzidos à nossa condição perante a Natureza de Herzog.
Mas "Rescue dawn" deve parte do impacto que tem à intrepretação de Chirstian Bale, física como quase todas, naquilo que já se vai tornando imagem de marca no actor. Como interpretava alguém exposto a um duro cativeiro, perdeu perto de 40 quilos, o que é de valor, ficando ainda assim longe da holocáustica figura que exibe em "O maquinista". No entanto, Bale não se limita a isso: longe de envergar clichés de prisioneiros (como faz Jeremy Davies no filme, o eterno cobardolas em cenários de guerra), Bale é como um puto que aterrou num território novo, tendo o azar de ter uns vizinhos que por acaso o torturam ocasionalmente. A sua amizade subtil com Duane, numa outra interpretação a destacar de Steve Zahn, mantém o fime seguro e o calor humano no espectador.
Tem, talvez, um final demasiado up-lifting, algo atípico em Herzog, mas é ainda assim uma obra de grande interesse.

1 comentário:

João Santiago disse...

''rara experiência de ver um filme europeu no cinema, apesar de ser falado em inglês.''

Em Inglaterra fala-se inglês. Inglaterra é Europa.

Até tenho curiosidade em ver este filme.