terça-feira, fevereiro 12, 2008

Em terra de cegos

Em 16 anos de escutismo, nunca fui guia ou chefe de uma equipa. Pessoas com ambições ou sede de protagonismo poderiam guardar rancor ao ter algo assim no seu currículo, mas eu sempre aceitei isto como a ordem natural das coisas. Acredito que nem toda a gente pode ser um bom guia ou chefe, e eu muito menos. Antes que comecem "Olha o malandro, com o paleio do costume a botar-se para baixo!", não estou a negar que tenha qualidades. Apenas que aquilo em que sou bom se ajusta mais a alguém que dá o seu contributo numa equipa. Ser líder não é comigo: faltam-me dinamismo, carisma, responsabilidade, optimismo constante... Enfim, tudo aquilo que os bons líderes têm.
Por isso, quando este fim de semana, num curso de formação para dirigentes do CNE, a minha patrulha me elegeu como guia, ri aparvalhadamente; depois entrei numa espécie de sabedoria folcórica psicaélica, para logo a seguir recusar. Insistiram. Sem escolha, revelei-me e expliquei, mais palavra menos palavra, o que escrevi em cima. Escondi apenas um facto: muitos dos meus colegas de patrulha, e a falar a verdade boa parte daqueles que estão a fazer o curso comigo, nunca foram escuteiros. Logo, quando olham para mim, esperam algumas palavras sábias; pedem conselhos; perguntam-me "O que é que tu fazes por lá?", com aqueles olhos de quem acha ir ouvir a última revelação sobre o que é o escutismo, um segredo qualquer que Baden Powell levou para o túmulo e só eu sei. Mas não sei. Não sou sequer o modelo de bom escuteiro, por várias razões que guardarei para um post a ser escrito se um dia já não for mirim. Não tenho respostas, e sobretudo não me sinto confortável quando se espera algo de mim. Tenho uma repetitiva tendência de desiludir as pessoas. É crónico. Sim, é um grande handicap para quem está responsável por um conjunto de miúdos, que olham para nós, seguem o nosso exemplo, querem aprender connosco.
Mas após a insistência, aceitei. Enfim, porque não? Uma novidade. Detesto novidades, mas será que irei experimentá-las quando estiver morto? Além disso, poderei finalmente responder a uma pergunta que me coloco às vezes: que tipo de líder sou eu? Não sei, mas como guia da equipa Cuco, só tenho de ter o cuidado de não levar o nome da equipa a sério e evitar armar-me aos cucos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Já olhaste bem para os dirigentes que temos???
Se calhar é a tua noção de líder que é demasiado ambiciosa...
Não que eu ache que devemos baixar a bitola pelo facto de escassear a qualidade, mas no dia-a-dia é cada vez mais difícil guiarmo-nos por tipos-ideais...
De qq forma, Parabéns! Espero q faças um óptimo trabalho com o teu grupo.
Ah, e parabéns também aos chefes escutas que conseguiram pôr fim àquela péssima campanha publicitária da Parvónia.
Afinal, os parvos eram eles... ehehe
yui

João Santiago disse...

armar-me aos cucos ou armar-me aos cágados?

Palavras Soltas disse...

apeteceu-me dizer-te que eu acredito que vais ser capaz... (embora te possa parecer estranho vindo de mim)... mas acredito mesmo que podes e vais dar muito a tua patrulha!!
e ah "bom escuteiro" ... boa caminhada