segunda-feira, fevereiro 04, 2008

"Sweeney todd"


À primeira vista, juntar um cineasta com o estilo visual de Tim Burton e o género musical pode parecer um erro de casting. No entanto, os mais atentos à obra do realizador devem ter reparado que a principal fronteira entre os dois mundos é o facto de os actores não cantarem. As bandas sonoras de Danny Elfman, em conjunto com o ritmo próprio das obras de Burton, dão um sentido musical a alguns filmes do realizador. Na verdade, Burton tem pelo menos 2 filmes onde há números musicais: "The corpse bride" e "Charlie and the chocolate factory". Podíamos incluir "The nightmare before Christmas", mas apesar da crença geral, Tim Burton NÃO realizou este filme, apesar de a sua imaginação ter sido uma das suas forças motrizes. A responsabilidade é do animador Henry Selick.
"Sweeney Todd" era o musical da Broadway que estava à espera que Burton assumisse finalmente esse talento que lhe estava latente. A história é à medida do realizador: um barbeiro é condenado injustamente por um crime que não cometeu. Depois de alguns anos, regressa à sua cidade, Londres, para se vingar daqueles que lhe roubaram a vida. Tudo iss envolvendpo navalhas da barba e emapadas de carne, com sangue, canibalismo e homicídio à mistura. Isto pode não parecer a matéria da qual se fazem os musicais de palco, mas não foi Filipe la Féria o autor do libreto, mas sim Stephen Sondheim, que é uma espécie de demónio dentro da Broadway.
A partir daqui, Tim Burton apressa-se a construir um território que lhe é familiar (uma Londres do século XIX com a decadência urbana das obras de Charles Dickens e um negro gótico dasde Edgar Allan Poe, o que diz bem daquilo que esta obra entronca em si) e um background com que pode lidar, trata dos números musicais. O filme não embarca em grandes coreografias, com bailarinos aos pulos, antes se centra naquilo que os personagens cantam e nos movimentos cénicos que lhes estão ligados. Isto liga-nos ao musical como história, e não como espectáculo. Para isso, está lá Burton: é o seu toque que eleva toda a hbistória para outra patamar, com hemoglobina a jorrar pelas frincas da casa e personagens que se Sondheim não escreveu com os filmes do realizador em mente, há certamente um elo criativo entre os dois. A forma como encena todo o macabro como uma comédia negríssima, algures entreb o cinema de terror britânico da década de 40 e os seus próprios filmes iniciais (como "Beetlejuice") é espantosa e apesar de não ter visto o musical original, não fiquei com grande vontade. Eu gosto de musicias, mesmo aqueles com coreografias, mas tenho de amiditir que este é o meu tipo de musical.
Os actores não são cantores consumados, mas não precisam de o ser, pois a abordagem de Burton centra-se muito mais na interpretação dramática. Depp, como Sweeney Todd, é perfeito como fantasma ambulante. Todd já está morto bem antes de o filme começar. O seu único objectivo é vingança e se algum sentimento ainda reside dentro dele, é o ódio. Depp, para além de tornar aquilo que diz convincente, transmite esse vazio da personagem através da linguagem corporal, principalmente na economia de movimentos, que só parece mudar com se vê com navalhas de barbear nas mãos. A Miss Lovett de Bonham-Carter é o seu contraponto ideal, uma mulher que rompe os seus limites morais por amor a um homem que não pode amar onde está: um poço vazio e outro cheio. Destaque também para Alan Rickman, a fazer de vilão. Mas hei, é Alan Rickman, certo? Ele podia ler um prontuário que eu estaria boquiaberto a olhar.

Ideal para quem não gosta de musicais tradicionais, para dadores de sangue e pessoas que tenham um sentido de humor muito retorcido. Acreditem, vão precisar de um.

4 comentários:

méli disse...

sim... os dadores de sangue vão adorar... é uma fartura!!! e viscoso que ele é!!!

méli disse...

sim... os dadores de sangue vão adorar... é uma fartura!!! e viscoso que ele é!!!

Anónimo disse...

e vermelhinho... gostei muito do filme mas gostei particularmente das 2 frases que o publicitam: "Nunca esquecer. Nunca perdoar." ... conseguiram estar presentes, na minha cabeça, do início ao fim do filme e ainda por lá ficaram um pouco depois...

Miguel Monteiro disse...

Mrs. Lovett, you're a bloody wonder, eminently practical and yet appropriate as always!