quarta-feira, março 26, 2008

Benning


Benjamin Linus, da série "Lost", é proventura o melhor vilão da actualidade televisiva. A sua vilania vai para lá da mesquinhez dos seus actos e da incapacidade que temos em confiar nele: o facto de conseguir ler perfeitamente as pessoas e conseguir prever os seus actos futuros baseado nessa habilidade é o que mais arrepia e aspecto e, num mundo onde existe um monstro de fumo negro, complicações magnéticas, baralhações do continuum espaço/tempo e um homem que tem flashes do tempo que há-de vir, essa é a parte mais sobrenatural de "Lost". Porque ninguém consegue ler as pessoas de forma tão clara.
Conheço uma ou outra pessoa que o fazem razoavelmente bem. Espanta-me a maneira como o fazem, mas acertam nas suas previsões. Algum calo de relações humanas ou simplesmente perspicácia natural ajudam a explicá-lo. Escusado será dizer que eu não tenho nem uma, nem outra. À minha incapacidade de ler pessoas, junta-se o facto de estas serem todas complicadas e imprevisíveis. Quando se julga conhecer alguém, eis que nos puxam o tapete debaixo dos pés e ficamos ali no chão, à nora, sem saber muito bem o que se passou. Mas não vimos isso chegar.
Ora, nos últimos tempos, tenho-me abstido de falar de um assunto que era o pão nosso de cada dia desde o início deste blog: a minha vida pessoal, suas desventuras e o eterno Mar dos Supersargaços em que esta navega. Foi propositado, até porque tinha assunto sobre o qual escrever. No entanto, tomei a decisão de que algumas coisas que sentia e vivia devia guardá-las para mim. Uma opção. Continuo a achar isso, mas algumas reflexões que tive durante esse período andam a saltar demasiado alto para que as continue a prender com uma corrente, como faço ao meu cão.
Começo por frisar desde já um facto na minha personalidade que é por demais evidente: sou emocionalmente imaturo. Algumas mulheres mais espirituosas terão logo a piada "Claro, és homem", mas isto mostra que, além de gostarem da piada fácil, têm muito pouca capacidade de auto-análise. A minha imaturidade emocional, que me faz, aos 25 anos, lidar com os sentimentos como se tivesse 12, é normal: eu não lido muito com pessoas, ainda por cima no caso de sentimentos ais extremos. Por isso, aprendi algo que é universalmente conhecido: quando raspamos em alguém de forma mais intensa, mesmo que seja por pouco tempo ou com intenções que nada têm a ver com sentimentos, não podemos prever o resultado. Só uma obrigatoriedade, que é a de que vamos arranjar problemas. Para nós e para a outra pessoa. É inevitável, é tão certo como o Edcarlos falhar aquele golo de baliza aberta. Eu pensava que não, mas é verdade, verdadinha.
Uma outra ideia que tinha era a de que só eu é que era emocionalmente imaturo, ou que tinha incapacidade em lidar com os meus sentimentos e os dos outros. Ok, sou egocêntrico. Já sei, não precisam olhar co esse ar reprovador. Há mais gente assim. O interessante é encontrar pessoas que não são nem melhore,s nem piores do que eu a lidar com o que sentem. São apenas diferentes, e nós temos de expandir a nossa mente se quisermos perceber porque é que algumas pessoas agem da maneira como agem. Por ves, há que pareça estar desculpar-se perante nós, quando na verdade está a dar desculpas a si própria. Eu sei o que isso é, também me acontece. Mas eu estou aqui a admitir isso.
Ok, afinal não sou tão emocionalmente imaturo como penso. Podia ser bem pior.
Por fim, para não alongar mais isto, descobrir que não somos aquilo que dizemos ser é interessante. Cria um dilema moral que dá dores de barriga (literalmente), mas uma vez que nos habituamos, percebemos que há mais na vida do que aquilo que está no ecrã de um computador. Não que passemos a perceber melhor as pessoas por causa disso, mas de repente, a vida parece-nos mais suportável e andamos mais calmos durante um tempo.

Ah, uma lição extra: o Dr. Dre, através do Ben Folds, tem toda a razão. Não é, Vitó?