terça-feira, janeiro 27, 2009

Memento morti


Continuando a provar a minha teoria de que os bons andam mesmo todos a morrer (e que por cada bom que morre, Camilo de Oliveira suga mais um ano para poder continuar a empestar este planeta), acordei para ser esmurrado pela morte de um dos meus realizadores preferidos: Kim Manners. PerguntarãOo: mas oh Bruno, que filmes fez ele? Que nomeações ao Óscar detem este homem? Quando é que o seu nome apareceu numa Palma de Ouro em Cannes? E eu respondo: não, este homem não realizou filmes. No seu tempo de vida, Manners dedicou-se a elevar a realização televisiva a algo mais do que tarefa banal. O homem injectou arte e engenho nas séries de televisão, bem antes da era dourada das ditas (normalmente considerada como sendo 200-2004). Ele foi um dos produtores de "The X-Files" e um dos maiores responsáveis pelo sucesso da série. Foi dele o tríptico de transição da 2ª para a 3ª temporada ("Anasazi", "The blessing way", "Paper clip"), o excelente "Clyde Bruckman's final repose", o divertidíssimo e rashomoniano "Bad blood", o aterrorizador "Syzygy"... Estava aqui um post inteiro a recordar alguns dos meus episódios preferidos da série que mais me influenciou. Por arrasto, sei que fui influenciado por ele.
Claro que isto pode ser paleio de um x-phile devoto e núcleo duro. Até podia, mas aqui há uns tempos, o que penso foi credibilizado por Alain Resnais, talvez o mais cineasta francês vivo, que quando questionado acerca dos cineastas actuais que mais apreciava e que o influenciavam, deu nomes normais: Wong-Kar Wai, Hou Hsiao-Hsien, David Lynch, Armauld Desplechin... E timidamente, acrescentou: "Eespero que no meu trabalho se note também a influência de Kim Manners. Ele realizou uns 50 episódios para a série "The X-Files" e o seu virtuosismo técnico, juntamente com a maneira como dirige os actores impressionaram-me bastante". Que um dos chamados grandes mestres vivos diga isto de um "mero" realizador de televisão quer dizer alguma coisa acerca da potência deste médium na revolução do audiovisual, e é também um testamento definitivo do talento de Kim Manners. Corrijo: o testamento definitivo do talento de Kim Manners está em cenas como a exibida em baixo. R.I.P.

Sem comentários: