terça-feira, janeiro 13, 2009

O Homem e a Mulher


O título deste post não é meu, é roubado. Admiti. Pertence a uma publicação que todas as semanas aparece aqui por casa e que apesar de conteúdo sério e beatífico, é na verdade umas das maiores contribuições para o humor nacional. Falo de "O amigo do povo", lendária tiragem quase centenária, que tem o apoio da diocese de Coimbra. São quatro páginas de uma folha A3 dobrada, mas contêm algumas tiradas de genial recorte e que não têm o direito a celebração mediática. Quem, como eu, tem a sorte de receber este jornal saboreia agora a memória de "Ao calor da fogueira", herdeira da antiga "À sombra do castanheiro" (o que nos faz pensar que devido às alterações climáticas, é melhor fazer este tipo de rubricas no interior de uma casa, não vá o tempo pregar partidas), que se desenrola numa aldeia do interior,onde um velhinho bem sábio, e um jovem de 30 e tal anos, saudavelmente cristão, iluminado sobre a vida, mas com espaço suficiente para encaixar as teorias do velhinho acerca da vida em geral e dos malefícios das políticas de esquerda e do liberalismo moral em particular, conversam e transmitem sapiência; o "Notícias de toda a parte", onde a actualidade é tratada com o olhar imparcial que só um comentário como "Veçhinha assaltada. É por isso que este país não avança" pode oferecer; os editoriais, agora a cargo do padre Manuel Pinto, que concluem que o Papa é mais eficaz que o Batman e que todos nós somos Jokers a fazer pouco dele, uns malandros; e obviamente, a secção recreativa, com adivinha, charada combinada e piadinha dignas de oura publicação eclesiástica, o "Clarim". Ah, sim, o "Clarim...
Todo um mundo que fascina. A edição desta semana atingiu patamares de humor reservados à segunda série dos Monty Python, 4ª série de Seinfeld e alguns discursos de Manuel Monteiro. Em primeira página, um poema, com o título deste post, de um autor chamado Victor Hugo. O leitor fica sem saber se estamos perante algo do famoso escritor de "Os miseráveis" ou se será o senhor de uma mercearia da Adémia, que conseguiu ter alguns momentos de clarividência após uma noitada a fazer as contas da loja. O poema consiste no esquema "O Homem é isto, a Mulher é aquilo; por isso..." e tem tiradas que quero compartilhar com todos vós que, como eu, adoram um bom naco de literatura.

- "O Homem é a mais elevada das criaturas; a Mulher é o mais sublime dos ideais" - Começa bem. O Homem, uma criatura, um animal, mas elevado. Um pouco como se um chimpanzé conseguisse ler a tabela periódica. A Mulher é um ideal. Tudo bem, mas neste caso tenho de perguntar: Manuela Ferreira Leite pode ser considerada mulher então?

- "O Homem é o cérebro, a Mulher, o coração. O cérebro produz a luz; o coração, amor. A luz fecunda; o amor ressuscita." - Porque todos sabemos que a mulher não pensa, eis que o poeta, fugindo à confrontação, opta por fugir à confrontação com esse pormenor incómodo e pimba, a Mulher é o coração. Isto porque, está inscrito na carta geral dos direitos do Homem, um Homem não sente. Assim, cada uma se pode completar, porque se não tivermos alguém, não somos ninguém. Só assim a luz pode fecundar, o que me faz ter segundos pensamentos acerca da utilidade do meu pénis na reprodução humana. E se o amor ressuscita, que não tiver o amor de uma mulher, está morto. Agora que penso, no outro dia um amigo meu virou-separa mim e disse "Estás pálido, pá!"

- "O Homem é forte pela razão; a Mulher é invencível pela lágrima... A razão convence e a lágrima comove"- Conheço um antigo trolha, que está agora a cumprir pena na penitenciária de Coimbra, que me confirmou que isto é quase verdade. A lágrima da Mulher comove, é verdade, e ele uma vez quando estava a bater na mulher, o choro dela comoveu-o o suficiente para repetir a dose. No entanto, ele garante-me que tem a direita e a esquerda e não possui uma terceira mão. No entanto, ele parece que rezava muito e ficou muito contente com este poema. O capelão gosta dele e da mulher, porque ainda não se divorciaram.

- "O Homem é capaz de todos os heroísmos; a Mulher, de todos os martírios... O heroísmo enobrece, o martírio sublima..." - A forma como o poeta reduziu séculos de relação entre homens e mulheres a uma só frase é absolutamente genial.

- E porque isto está a ficar comprido, le grand finale: "Enfim, o Homem está colocado onde termina a Terra; a mulher onde começa o Céu!" - A mulher é a porta para o Paraíso! Helas, Helas! O Homem fica a guardar a Terra, que é como quem diz a casa, enquanto a mulher vai passear e dar uma volta. Quem diz que a Igreja favorece os tradicionais estereótipos sexuais, é parvo.

2 comentários:

Ela disse...

No comments!

Post-It disse...

Bewareee! Que as mulheres estão a ficar parecidas com os homens e os homens com as mulheres.