quinta-feira, dezembro 22, 2005

Carta ao Pai Natal



Olá, Pai Natal. Queres mesmo que te chame isto? Há quem diga que te chamas Nicolau. Telefonei para a Conservatória e não tinham lá o teu registo. Poderia-me ter informado na Finlândia, mas qualquer um sabe que perceber finlandês é mais difícil que entender húngaro... No meio do meu humor retorcido, pensei numa pleíade de nomes para te apupar: badocha, pote de banhas, boneco da MIchelin em lã vermelha, pedófilo de barbas brancas ou mesmo Eduardo Prado Coelho, mas achei que, uma vez no ano, devia ser eu mesmo. Por isso deixo a acidez e o sarcasmo de fora e trato-te pelo teu nome artístico. Não é grande coisas, mas vendo bem as coisas, há quem mude para Marco Paulo.
Continuando na onda de sinceridade, deixa-me dizer-te que nao acredito em ti. Até gostava, mantinha alguma espécie de chama viva em mim, mas já sou suficientemente lunático para espalhar por aí que acredito num badocha de vermelho que desce chaminés e distribui prendas às crianças. Além disso, não sou homem de grande fé: também não creio no teu concorrente directo, o Menino Jesus. Ou Emanuel, que é o que o pai biológico dele lhe chama. Pensando bem, não o percebo, pá. Então ele chama-se Emanuel e quer que lhe chameme Jesus? Bem, tendo pais com nomes como José e Maria, ele tinha de arranjar um nome fixe. Tipo Jesus; e tinha razão: pegou! Além disso, sempre é mais fixe dizer que se é filho de Deus que do José e da Maria. Além de Messias, ele era um génio do marketing! Ainda assim, se o gajo existir, deve ter um conjunto de problemas existenciais que não lhe invejo: imagino-o a olhar para este mundo, enquanto bebe um copo e se pergunta, às vezes, porque raio é que morreu na cruz. Parecendo que não, deve ser doloroso, e apesar da ressurreição, sempre morreu, caramba! É por isso que não sei qual dos dois tem a missão mais difícil: tu carregas presentes e conduzes um trenó puxado por renas mal-cheirosas e ele, ao que parece, carrega com os pecados da Humanidade. Só com o Saddam, o homem deve ter ganho uma hérnia discal, coitado!
Mas chega de críticas, pote de banha. Natal é época de concórida e não podemos andar aqui a malhar na concorrência.
As cartas que recebes são de gente muito pedinchona. Geralmente, de crianças, que pedem brinquedos. A definição de brinquedo para uma criança pode ser muito alargada e ir desde uma boneca a um computador topo de gama, passando pela Força Suprema do Son Gokou ou o pirete máfico do Cristiano Ronaldo. É mágico o mundo das crianças, e confesso que gostava que um dia me fosse dada a possibilidade de reviver a fase da infância. Mas sendo agnóstico, a quem posso pedir, não é? À ciência? Nem por sombras: há anos que lhe pedimos tanta coisa e temos sido frustrados que realmente não podemos ver nela um Deus... Não podemos ser crianças a esse ponto: se por um lado a ciência nos deu a televisão e a conquista do espaço, por outro criou o papel de alumínio e os peelings. Já para não falar da assustadora da posibilidade de um dia, enquanto estamos a ser operados, o cirurgião acender um cigarro junto às botijas de oxigénio, e nós de repente nos vermos a voar por cima da cidade, deitados numa marquesa... Os pedidos que te trago são mais mundanos e se calhar mais difíceis, pois por muito especializados que os tes anõs sejam, acredito que isto foge bastante da sua área de acção. Isto sou eu a dizer, que não conheço anões. Bem, conheço uma, assim pequenina, mas ela é mais neurobiologia.
O meu primeiro pedido prende-se com o Glorioso: dá-nos lá o caneco outra vez, pá! Bem vejo que vestes de vermelho, por isso nem disfarças o clubismo; e vê lá se arranjas uma abre-olhos ao Koeman e o fazes ver que aquele Beto só é jogador do Paços de Ferreira para baixo! Mete o Karagounis a jogar menos futebol de praia e concerta as pernas ao Simão e ao Moreira. Já que estás por essas bandas, e se ainda tiveres tempo, dá um jeito na fronha e na fala do Petit e arredonda um pouco mais a cabeça do Luisão. É que às vezes, julgo estar a ver o "E.T", em vez de um jogo de futebol...

A segunda prende-se com uma coisa mais pessoal e que me irrita há algum tempo: podias arranjar uma forma de me desencalhar? Não sei, fazer-me uma de encomenda ou assim. É que já nem sei mais o que fazer. Eu faço um esforço, a sério que faço: tenho uma rapariga de quem gosto muito e outra por quem estou interessado, mas não devia. Assim uma daquelas coisas que nem devemos pensar para nós próprios, porque não vale a pena chatices que não queremos enfrentar. Bem, acho que esta observação vale para as duas. No primeiro caso, penso que ainda poderias ajudar, tipo ofercendo-me um aparelho de teleporte para a Hungria ou assim, que eu pudesse utilizar regularmente. Já me safava! Sempre me alegrava um pouco, pois é muito difícil estar longe de pessoas de quem gostamos muito, e que nos fazem realmente acreditar que a vida, além de valer a pena, é profundamente injusta. No segundo caso... Bem, é melhor nem pensar nele, a vida é tão bonita e eu já tenho chatices de sobra, pá. Portanto, o aparelho de teleporte é a prenda neste segundo pedido. Mas se fizeres algo em relação ao segundo, não era pior. É Natal, portanto pedir não faz mal. Além disso, o primeiro caso é daqueles de que me estou a tentar desligar. Mas ela não torna as coisas fáceis, boneco da Michelin em lã vermelha, não torna não. É aquela velha história do "Longe dela, dói-me das duas maneiras".

O terceiro pedido era para me dares esse dom raro que é perceber as pessoas. É que não as consigo perceber mesmo. Principalmente se gostam ou não de mim; e se não gostam, porquê. Há quem goste de se se sentir tipo esterco, mas eu não. Para me deixar de sentir assim, teria de abdicar de uma coisa que prezo muito, que é a criança que vive plenamente dentro de mim, e que além de ser parva, é mais frágil e ingénua do que as pessoas geralmente pensam. Mas gosto demasiado dessa criança para a querer matar. Por isso, outro favor: dá-me mais confiança, pá, faz com que algo de que eu precise realmente me corra bem. Qualquer coisa, tipo o segundo pedido, faezr com que as pessoas não tenham medo de mim e se aproximem de mim ou que simplesmente me dêem abraços, beijinhos ou me façam festinhas sem que eu tenha de lhes pedir, ou suplicar. É que sabia bem, Pai Natal, e já há muito que não me fazem isso. Custa, é verdade, mas bem diz uma amiga minha que eu até sou bastante normal para quem se sente tão sozinho. Que achas, pedófilo de barbas brancas?

Quarto pedido: queres vir fazer os meus trabalhos de Mestrado por mim?

Quinto pedido: tenho uma amiga minha de quem gosto muito, embora às vezes fique com a ideia de que ela me olha assim um bocado de lado. Mas hei, sou eu, o paranóico. Podias criar uma ponte aérea expresso entre Bradford e Ceira? Ela agradecia, e eu também!

Sexto pedido: Inspiração. Sei que parece parvo eu pedir isto, mas queria uma ideia genial, em vez das muito boas que às vezes tenho. Pode ser?

Sétimo: Bem, este vai ser o último. Podia pedir a paz no mundo, mas estaria a bater à porta errada; e quem diz paz, diz acabar com a fome, com a doença e a pobreza. Por isso, uma coisa simples: faz-me sentir menos frágil, ok? Estou farto de o ser. Torna-me forte como tu, assim tipo Eduardo Prado Coelho, mas sem as banhas. Já sou gordo o suficiente.

Vá, e fico por aqui, que tu estás com pressa, e deves usar óculo de vista cansada. Não te quero maçar, pá. Desejo-te uma boa viagem de trenó e cuidado com os Boeings, os OVNI e um ou outro militante do bloco de esquerda ganzado!

Muito cordialmente
Bruno Ricardo

1 comentário:

ni disse...

o bruno a escrever uma carta ao pai natal...nunca pensei ler ixto! LOL :P

pede menos e age mais! you may be lost but you're not alone in this island!! :)*