terça-feira, dezembro 06, 2005

Séries que não passam por cá



Numa rubrica que inicio aqui, gostava de começar com "House", drama hospitalar transmitido pelo canal Fox norte-americano. Antes que se ocmece a pensar que aí vem mais um "E.R" ou "Chicago hope", urge descansar o leitor e dizer que desta vez, os médicos bons samaritanos como os doutores Ross, Green e Carter ficaram em casa. A séria, apesar de ser sobre uma equipa de médicos, é acima de tudo acerca do seu mentor, Gregory House, um médico arrogante, cínico, sarcástico, desagradável e ácido que espalha lemas como "Os pacientes mentem, toda a gente mente" ou "Não é o meu dever gostar dos pacientes, é meu dever curá-los". Trata os doentes que lhe vêem parar às mãos com um desdém incrível pelos seus sentimentos e encara-os como puzzles clínicos prontos a resolver. Ter um personagem assim numa série de horário nobre é obra, e embora compreendamos um pouco o porquê de ele ser assim, e de até lhe acharmos uma profunda graça se formos parecidos com ele (o que é o meu caso), ele passa a primeira temporada da série sem exibir qualquer característica visivelmente redentora. A restante equipa é composta por 3 médicas: o doutor Foreman, um negro que mostra uma arrogância semelhante a House; o doutor Chase, um filho de boas famílias; e a doutora Cameron, jovem e inocente e com feridas mal fechadas no seu passado. Mas estes 3 acabam por não ter grande espaço para brilhar, pois House rouba o espectáculo e faz da série um One man show.
Outros dois personagens da série são o Dr. Wilson, o melhor (e um dos únicos) amigos de House, e a doutora Cuddy, directora do hospital e que mantém uma relação de amor/ódio com House, plena de uma certa tensão, por vezes sexual. House tem falhas como ser humano, mas é um médico birlhante, que geralmente acerta nos diagnósticos que efectua, mesmo que sejam os mais esquisitos que se possa imaginar. Afinal, o seu carácter é marcado por uma deficiência física, o músculo da barriga da perna esquerda morto devido a falha médica, e uma posterior dependência de comprimidos contra a dor. É um handicap físico que lhe causa as suas falhas como ser humano.
Grande parte do apreço que possamos ter pelo personagem é graças à interpretação fabulosa e inteligente de HUgh Laurie, actor sempre ignorado, que passou por filmes como "Stuart Little" e "The flight of the Phoenix", e que se revela aqui como um britânico que encarna na perfeição um norte-americano. Além disso, é incrível apreciar como ele caminha sempre na linha fina da ambiguidade moral que a personagem pode ter para o espectador e consegue ser bem sucedido. É um espectáculo espantoso ver o doutor House a disparar os seus one liners e a discursar acerca da sua visão sobre a vida e a medicina, trucidando quaisquer argumentos que lhe sejam postos à frente. Hugh Laurie é, de facto, a alma da série, embora qualquer um dos outros personagens seja potencialmente interessante. No entanto, ficam a anos luz da complexidade de HOuse. Mas afinal, a série até tem o seu nome.

Fica a primeira sugestão. Na próxima semana, e finalmente, "Firefly".

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