quinta-feira, janeiro 11, 2007

Coçamos as costas um ao outro

O mais interessante no processo Apito Dourado, a meu ver, não é todo o rol de corrupção que faz parecer meninos de coro os mafiosos da série "O polvo, mas sim o facto de eu crer, piamente de que há arguidos que acreditavam, piamente, que não estavam a cometer qualquer crime. Falo daqueles pessoas que simplesmente pediram, por amizade, um favorzinho ou uma cunha para o seu clube ou um árbitro amigo. Porque Portugal funciona assim: por favores e cunhas. Eu faço-te um, cobro-te para a semana; e a cunha é a forma mais indicada para arranjar emprego em Portugal. Aqui há tempos, um tio meu emprestado disse-me que conhecia alguém na DREC e podia interceder por mim junto dessa pessoa, a ver se ela dava um jeitinho nas colocações dos professores. Eu disse-lhe que não e ele ficou muito ofendido. Eu pensei para mim que ele nem se apercebeu do que estava a fazer. É natural, faz parte do modo de viver português: o pequeno feudo de ligações, acima de tudo o mais que há de geral e legal em Portugal. No fundo, no fundo, nós gostamos de viver em Portugais separados uns dos outros, cada um com as suas leis e regras.

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