terça-feira, janeiro 15, 2008

Fashion victim


Sofro de um mal interno que me impede de ser normal e que devia ser contemplado na lei portuguesa, naqueles artigos sobre pessoas com necessidades especiais, um eufemismo poiliticamente correcto e parvo com que o establishment decidiu brindar os cidadãos com deficiência. Porque deficiência é uma palavra muito feia e não soa bem. Mas não é esse o assunto.
A minha doença é a incapacidade quase total em comprar roupa. Não porque goste de andar nun. Aliás, até gosto, em certa situações é totalmente aconselhável, mas o verdadeiro motivo é a minha falta de gosto em moda. Coloquem-me numa livraria e estou em casa; ponha-me numa loja de DVD e eu oriento os clientes todos enquanto resolvo um cubo Rubik. Soltem-me num entreposto de roupa e sentem-se, enquanto esperam pelo desastre a acontecer. Tenho uma crónica falta de conhecimento do assunto. Não me interpretem mal: sei o suficiente para não entrar na Oysho à procura de vestuário para mim, mas sou tão burro que só me apercebo que passei da secção de homem para mulher numa loja de roupa quando chego às coisas mais óbvias que me recordam que já não vejo um par de mamas ao vivo há algum tempo.
Por isso, tenho medo de comprar roupa. Isto explica o facto de o meu guarda-roupa não sofrer uma revisão consistente há mais de cinco anos. Por isso, uma das minhas decisões para 2007 foi então proceder a essa revisão. Tarefa penosa, mas eu estou habituado a isso: todos os anos digo a mim mesmo que hei-de arranjar uma namorada.
As boas notícias é que consegui cumprir 90% dos meus objectivos sem grande dificuldade. O principal, tomar decisões autónomas relativamente ao que comprar, foi cumprido com inesperada desenvoltura e juro que, algures, quando vi um homem a segurar uma camisola com ar de quem a ia experimentar, pensei: "Meu, isso fica-te tão terrivelmente mal!". Eu a mostrar uma opinião sobre moda, a sério. Penso que co o que comprei, posso passar mais um ano, em diferentes combinações, a enganar as pessoas e fazê-las pensar que aquela camisola preta não foi estreada em 1999. Ou então, não.
Um último apontamento: como cliente e consumidor, cabe-me lançar um alerta aos comerciantes da indústria do vestuária para um factor importante no acto de venda. Falo das cabines, vulgarmente designadas de provadores. Existem elementos importantes para quem lá vai experimentar o produto que quer comprar. Nâo adianta terem só cabides e espelhos. Os cabides são muito úteis para casacos e calças com cruzetas agarradas, mas quem quer tentar camisolas tem de desafiar as leis da lógica para poder pendurar lá a sua. Algumas lojas, um númeor reduzido, têm o bom senso de colocar um banco, que para além de servir para nos sentarmos se formos mesmo muito, muiot indecisos na escolha de uma peça de roupa, está mesmo a jeito para colocarmos o que não podemos deixar nos cabides. Faz a diferença. O mesmo se diz com um espelho duplo, que nos permite ver a parte de trás e da frente em simultâneo. Dois serviços mínimos que podem fazer muito pela relação vendedor/consumidor.
Fica a dica de um leigo, com tudo o que isso vale.

1 comentário:

Vítor H. Silva disse...

Meu... até certo ponto estava solidário contigo, mas quando dás sugestões para os provadores... ui!
Very unsettling!