segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Road to the Oscars: "Crash"



Um erro comum quandos se lêem algumas críticas a este "Crash" é a comparação que se estabelece com "Magnolia", o filme de 1999 de Paul Thomas Anderson. A única semelhança entre ambos é o facto de quererm ambos serem filmes que cruzam histórias de variadas personagens, naquilo que é usual chamar-se de "filme coral". De resto, é inútil e talvez falso no que toca à crítica imparcial deste falso continuar por esse caminho. Têm temáticas, personagens, objectivos e perspectivas diferentes.
O tema principal de "Crash" é o do rascismo; e é já aqui que o filme mostra ao que realmente vai, demarcando-se dos habituais lugares comuns do racista branco opressor do ngero. Desenrolando-se em Los Angeles, esse melting pot de nacionalidades e culturas na costa Oeste dos Estados Unidos, parte de um acidente de automóvel, onde intervêm um negro, uma latina e uma chinesa para fazer desfilar ao longo de toda a fita gente de todas as cores, profissões, estratos sociais e posições política. Portanto, fala de rascismo sem nunca ser maniqueísta: brancos criticam negros; chineses chamam nomes a mexicanos; árabes insultam hispânicos. É só escolher e temos um choque de culturas habitualmente retratadas como minorias a comportarem-se, no fundo, como aquilo que são, e que somos: seres humanos, e nesse condição, temerosos do que desconhecem e do que existe à sua volta. Nunca moralizando esta questão, Paul Haggis, realizador e co-argumentista do filme, nunca nos diz que não há motivos para temer os outros: afinal, há assaltos, há homicídios e tentativas de homicídio, há hipocrisias, há assédio sexual. Tudo isto em 24 horas, em Los Angeles.
É esse esforço de esticar a sua manta a vários estratos e várias comunidades étenicas que estrangula um pouco o filme e lhe faz perder alguma da sua coesão. Embora os quadros estejam ligados através dos encontros de personagens que aparentemente estriam distantes umas das outras (e nalguns casos, esses encontros acabam por ser bastante egenhosos, mérito dos argumentistas), o filme soou-me mais a uma colecção de retalhos de vidas normais (retalhos bem escritos e bem pensados) que a uma fita com uma coesão interna evidente. Nesse sentido, "Crash" perde uma certa força, nunca deixando que as histórias se apoiem umas sobre as outras, preferindo fazê-las desfilar como curtas-metragens mais ou menos independentes. Devido a isto, há personagens mais fortes que outros, com mais espessura e tempo de desenvolvimento. Ora, quando se quer fazer um "filme coral", este é um pormenor a ter em conta: outros filmes corais como "Short cuts", de Robert Altman ou o já referido "Magnolia", de Paul Thomas Anderson" conseguem realmente faezr as histórias em círculo, onde tudo bate certo, sem nunca haver sensação de alguém ter ficado para trá,s ou de nunca estarmos assistir a um filme homogéneo.
A realização é muito boa, sem no entanto nunca ser brilhante, e o argumento, apesar das falhas já referidas, é uma reflexão hábil, sem nunca ser pretensiosa, das temáticas sobre as quais se debruça, construindo personagens credíveis e contraditórias, pese embora, como se disse, nem todas serem cassim tão complexas. A personagem de Sandra Bullock, por exemplo, é das mais subaproveitadas no filmes, parecenod surgir para brandir uma certa lição. No entanto, destacam-se naturalmente o polícia racista de Matt Dillon, o detective negro com problemas familiares de Don Cheadle e o casal formado por Terrence Dashon Howard e Thandie Newton.

O espectador comum poderá sentir dificuldades inicialmente ao ver "Crash": não há um herói por quem torcer. Quando julgamos que o enocntrámos, este faz qualquer coisa de sujo ou imoral; e mesmo aqueles que parecem maus, são capazes de, quando o momento exige, um acto heróico. Esta é a realidade, estas são as pessoas normais como todos nós, capazes do melhor e do pior. existe esta duplicidade em todos nós; e no que toca ao racismo, todos nós somos capazes disso, mesmo inconscientemente, ou descobrindo-o da maneira mais dura, como o faz o personagem de Ryan Philippe no filme. Às vezes, as pessoas evitam tocar uma nas outras, esntrar em contacto com os outros. É por isso desarmante e acertada a frase com que Don Cheadle inicia o filme: It's the sense of touch. In any real city, you walk, you know? You brush past people, people bump into you. In L.A., nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something.

Sem comentários: