quinta-feira, janeiro 05, 2006

Inteligência: dom ou maldição?



Uma coisa que me perturbou muito esta semana foi o facto de, numa conversa, alguém me ter dito que eu não era inteligente por aí além, que no fundo a minha cabeça era igual à dos outros. Além disso, argumentou a pessoa, eu era presunçoso e arrogante devido ao facto de pensar que era mais inteligente que os outros. Logo, além de iludido, a conclusão lógica a tirar era a de que teria uma ideia de que seria um ser superior aos outros, conceito que, para quem tem lido este blog e a autêntica carga de porrada que dou em mim próprio, será algo de cómico.
De qualquer forma, arranjei um tempinho, entre a depressão aguda e a leitura e escrita de trabalhos de Mestrado, para pensar no assunto. Por vezes, podemos estar errados no que pensamos acerca de nós próprios, tanto para o bem, como para o mal. Seria eu realmente presunçoso e arrogante? Não passaria eu, afinal, de alguém completamente banal e iludido quanto à minha capacidade de raciocínio e dedução? Pois bem, eis as conclusões a que cheguei.
Não me acho presunçoso. Posso por vezes dar essa ideia, é compreensível, mas não é porque pense que seja um ser superior, mas sim porque penso que os outros são iguais a mim. É estranho o conceito, mas está óbvio que, nalgumas matérias, nem toda a gente pode saber o que eu sei (por exemplo, História), mas eu penso sempre que sabem. Enfim, é um erro, mas isso não faz de mim presunçoso. Além disso, não sou eu que propalo a minha suposta superioridade: da última vez que joguei Trivial Pursuit, estávamos cinco pessoas e insistiu-se que fossem 4 a jogar contra mim. Enfim, por esta altura, não sei quem terá a ideia de que sou a maior inteligência por aqui: se eu ou as pessoas que me conhecem (ou julgam conhecer). Eu acho que as pessoas acabam por nos ver como querem ver. Quem me conhece nos escuteiros, acha-me presunçoso, arrogente, criativo e um piadolas (descrição na qual, pasmo-me, não cabe uma única qualidade humana, o que me entristece); no grupo de Teatro a que pertenço, acham-me simpático, capaz de divertir as pessoas e de as moralizar, inteligente, teimoso e derrotista; uma amiga minha vê-me como alguém carismático e seguro de si próprio; na Universidade, dizem que sou positivmanete maluco, corrosivo e sarcástico; enfim, um conjunto enorme de pessoas por onde posso escolher quem quero ser hoje, embora no fundo, e sem me aperceber, elas façam parte de mim próprio.
Um pormenor interessante é que normalmente toso os que me acham presunçoso acabam por contribuir, e provavelmente sem se aperceber, para essa imagem: consigo contar pelos dedos das mãos, e acho que me sobram, aqueles que conversam comigo sobre trivialidadese quotidiano e não só sobre filmes, cultura geral e DVDs. Eu tento sempre falar com as pessoas sobre o dia a dia que levam, mas aparentemente há pouca gente que o consiga fazer comigo, porque não quer e, o que me parece mais grave, por pensar que não sou capaz. Eu levo uma vida quase normal. Se tivesse uma namorada, fosse feliz comigo mesmo e me achasse integrado, seria mesmo normal. Se as pessoas me tratarem como um deles, penso que a minha imagem de presunçoso e arrogante poder-se-á apagar, assim como se eu me adaptar às limitações que todos temos a coisa se torne fácil. Seria um exercício positivo, acho. Eu não sou ninguém superior, tenho as minhas enormes falhas intelectuais: o meu raciocínio matemático não existe; física e química podem andar longe; e psicologia humana e análise dos outros são pechas imperdoáveis. Agora, não me venham dizer que por achar que sei muito sobre História, Cinema, Arte, Cultura, Geografia e afins sou arrogante. É como dizer que o Mourinho, por dizer por vezes que é o melhor treinador do mundo, está a abusar. Podem bater-me o quanto quiserem nas áreas que referi, e noutras mais em que não sou tão bom. Nisso, estão à vossa completamente vontade.
As qualidade das pessoas podem também ter interpretações diferentes: há quem considere alguém que se preocupa com os outros e que acha que o que lhes acontece de mau é sua responsabilidade um tipo amigo e atencioso, mas há quem possa achar que ele está a ser arrogante, ao pensar que tem influência directa sobre a vida de toda a gente que conhece e, por isso, pensar que é um Deus. Enfim, interpretações diversas...
Quanto à minha inteligência... Posso dizer que não sou a pessoa mais inteligente que conheço. Há amigos meus junto aos quais sou sombra mais que pálida. A Joana Brites, por exemplo, supera-me, e de longe. Um tipo que está no meu Mestrado, chamado Nuno Alegria, começa a surpreender-me; o Pêpê, por exemplo, tem a capacidade de chegar a todas as pessoas, o que é sinal de grande sagacidade; a Rita é profundamente perspicaz e culta. Isto é tudo gente que está mais à frente que eu em inteligência, em diversas áreas. Sou suficientemente humilde para o reconhecer. Mas não é por isso que deixe de me considerar inteligente; e quando falo de inteligência, não falo de quantidade de conhecimentos adquiridos. Isso pode simplesmente significar uma enorme capacidade de memorização. Acho que tenho uma boa capacidade de raciocínio. É localizada, não é geral, mas possuo-a. Tenho sentido crítica e de reflexão. Analiso as coisas com a racionalidade devida, nunca exagerada; e tenho a mente aberta para outras coisas. Se não tivesse, não gostaria de Green Day e de Cinema, duas coisas que cheguei a odiar. Sou preguiçoso, relativamente à minha inteligência, e isso faz de mim estúpido, mas não burro.
Acho também paradoxal que se diga que sou criativo e não inteligente, pois para mim, as duas coisas estão relacionadas, principalmente na área em que sou criativo, que é na escrita. Não conheço muitos escritores criativos que não sejma inteligentes e mesmo no cinema, que é a área que quero seguir, a capacidade de raciocínio tem de estar presente.

Como referi em cima, cada um vê em nós aquilo que quer, e cada um pode pensar de nós o que deseja, o que não significa que esteja correcto. Concordo, e concordei com algumas coisas que me apontam. Compreendo, por exemplo, porque me acham presunçoso, e acima expliquei porquê. Quanto à inteligência... As pessoas podem pensar tudo o que quiserem, mas eu não sou obrigado, e principalmente quando não concordo de todo, a dizer que sim e a sorrir. Chamarem-me uma inteligência a toda a prova e luminária? É profundamente parvo e errado. Dizerem que a minha cabeça é normal? Também não acho que esteja correcto. Enfim, aceitam-se opiniões a contradizerem-me. Prémio especial para quem conseguir acertar alguma coisa sobre mim.

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